Ao criar o mundo, Deus usou de todos os seus atributos e múltiplas vocações para fazer do planeta Terra um vasto campo de experimentações e, assim, colher subsídios para criar no futuro uma nova civilização. Com criaturas mais inteligentes e semelhantes ao Criador.

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Como arquiteto, botou todos os japoneses do Universo numa pequena ilha para ver como eles se sairiam com problemas de habitação, mobilidade e divisão de espaço. Engenheiro, Deus concentrou na Califórnia os terremotos, na esperança de que alguém lhe ajudasse a resolver uma falha de cálculo estrutural que nem mesmo Ele conseguiu resolver. O Deus da música fez nascer na Inglaterra quatro cabeludos, para sentir como a humanidade reagiria ao som do rock.

E assim por diante, até o Deus sociólogo criar Curitiba com a intenção de fazer um estudo do comportamento da Classe Média. Quando as estatísticas registram que a cidade é majoritariamente mediana, não é apenas uma constatação socioeconômica. É a vontade de Deus.

De vez em quando o Todo-Poderoso recebe relatórios de pesquisas e avaliações econômicas, relatando o comportamento de consumo e sua evolução, para o mal e para o bem. Neste último estudo (realizado pela IPC Marketing e publicado ontem pela Gazeta do Povo), o Todo Poderoso perguntou a uma boa parte da cidade que muito o preocupa:

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– Como vai você, Classe C?

Depois de embalar o crescimento nos últimos anos, a Classe C perdeu o fôlego e aquele furor consumista que alavancou o Lula na presidência e o Ratinho no SBT: “A combinação de endividamento, inflação e juros mais altos e crescimento mais tímido da renda afetaram a disposição da nova classe média em gastar”.

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Movida ao crédito farto, com juros na altura da popularidade do Lula, a nova Classe Média baixou a bola. Do hambúrguer do Madero voltou ao pão com banha. Depois de voltar com o carrinho cheio do supermercado, comprar pacotes de viagem para Buenos Aires e até mesmo ir várias vezes ao Salão Marly, os novos ricos da moeda estabilizada sentiram o tranco da inflação e, com a cara feia dos bancos, os planos para o carro Zero ficaram no semi-zero.

Conforme os especialistas, a mudança de comportamento no consumo da Classe C talvez ainda não aponte uma tendência. Entretanto, mesmo considerando que tendência não é destino, é um forte sinal de que o bolso pode afetar a bolsa eleitoral. 

Enquanto a Classe C vai indo aos trancos e barrancos – deve responder por 24% do consumo em 2014, quando em 2009 abocanhou 30% -, a Classe B vai botar no seu cartão de crédito 50%, a bagatela de R$ 1,5 trilhão, a metade do que os brasileiros vão gastar.

– Como vai você Classe Média? – pergunta o Todo Poderoso aos curitibanos, que respondem com um certo enfado:

– Vamos indo! No ano passado viajamos para a Europa e agora vamos passar o Natal em Nova York!