Com esta avalanche que nos soterra de notícias da Copa do Mundo, tudo ajuda a recordar como nasce a paixão por um time de futebol. De minha parte, lembro que me apaixonei pelo Clube Atlético Paranaense por piedade. No início dos anos 70, o Coritiba era o mais forte e o Atlético o mais fraco. Optei pelo coitado.

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Carlos Maranhão nasceu em Curitiba e dirige a Veja São Paulo. Já foi diretor de redação das revistas PlayboyePlacar. Em 1990 confessou para o “Atletiba Literário”, em uma das “Edições leitE quentE”, porque é atleticano até morrer.

Eis o seu relato:

Comecei a me tornar atleticano porque, no dia 11 de junho de 1958, as aulas do Curso Tuiuti terminaram mais cedo do que de costume. “Podem ir para casa ouvir o jogo”, anunciou o professor e major Waldyr Jansen de Mello. A piazada saiu em alvoroço. Peguei cadernos e, enquanto caminhava atônito pelos corredores do CPOR, onde funcionava a escola, percebi a zoeira dos aparelhos de rádio ligados em alto volume. Antes de descer as longas escadarias do quartel, criei coragem e perguntei ao sentinela o que estava acontecendo. Os meninos perceberam a minha espantosa ignorância e começaram a rir. Então eu não sabia que dali a pouco o Brasil iria enfrentar a Inglaterra pela Copa do Mundo?

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A partir daquele dia passei a acompanhar a Copa do Mundo com tamanho entusiasmo que logo decorei não apenas os nomes dos jogadores, brasileiros e estrangeiros, como também dos árbitros e das cidades suecas em que se realizavam as partidas, o que acabaria sendo útil numa prova de geografia. Aprendi tudo pelo rádio, através da cadeia verde-amarela, norte a sul do Brasil, com as vozes mágicas dos narradores Pedro Luís e Edson Leite.

Campeão mundial, eu precisava agora escolher um time para torcer. Como decidir entre os onze participantes do Campeonato Paranaense? Anotei os nomes num papel, em ordem alfabética, copiando do Paraná Esportivo, o órgão líder de nossa imprensa especializada. No domingo seguinte, ainda sem a decisão tomada, fui ver o primeiro jogo ao vivo em minha vida. Era Atlético e Água Verde, na Baixada. O Água Verde entrou primeiro no gramado, com camisas listradas. Timinho simpático. Acho que vou torcer por ele. Aí entrou o dono da casa, tendo à frente um grandalhão de porte marcial, bigode fino, cabelos negros penteados com brilhantina e, na heróica camisa rubro-negra, um enorme 5 branco costurado às costas: Pedro Tocafundo, o magistral cobrador de faltas que seria o maior ídolo de minha vida.

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Bola em jogo, gol do Água Verde. Meu Deus… Vamos, Taíco, corre! Quase. Está bom. Aí, Belfare, que raça! Com esse tamanhinho, quem diria? Boa, Tocafundo! Isso Isabelino, bonito, agora… Voa, Gaivota, voa! Goooooool! Pronto, como num namoro, de repente, você percebe que está apaixonado.