Como não cair doente numa arapuca

Não existe nada tão ruim que não possa ficar pior. Depois que a direção do Hospital Evangélico publicou uma “mensagem à comunidade” se dizendo numa “situação peculiar, fora do controle da administração”, só nos resta rezar para não pegar uma gripe. Não querendo ser alarmista, mas diante das últimas investigações – consideradas “constrangedoras e lamentáveis”, segundo a alta direção do Evangélico -, é preciso tomar todas as precauções, obter informações de como evitar doenças contagiosas e demais enfermidades que possam nos levar ao velório puro e simples em uma UTTI (Unidade Terceirizada de Terapia Intensiva), especialização da médica Virgínia Soares de Souza.

Estávamos sendo excessivamente descuidados, prestes a cair numa dessas arapucas hospitalares. Para não cair nas mãos da Máfia de Branco (termo que caiu no esquecimento e que agora cai como uma luva cirúrgica no caso do Evangélico), encontrei no “Diário Mínimo” do escritor Umberto Eco algumas recomendações de “Como evitar doenças contagiosas”, da gripe suína à AIDS.

1) As populações afetas pela carestia endêmica devem abster-se, para acalmar os tormentos da fome, de deglutir com frequência, já que a saliva, depois de entrar em contato com os miasmas do ambiente, pode infectar as vias intestinais.

2) Tomar cuidado para não ser sequestrado por bandidos ou terroristas: os sequestradores costumam usar o mesmo capuz em vários sequestros.

3) Não frequentar teatros: é sabido que, por razões fonéticas, os atores cospem muitíssimo, basta olhá-los contra a lua, de perfil, e os pequenos teatros põem o espectador ao alcance dos perdigotos do ator.

4) Quem consumir mais de oitenta Gauloises por dia toca com os dedos, que tocaram em outras coisas, a parte superior do cigarro, e os germes podem entrar nas vias respiratórias.

5) Evitar ser aposentado, porque nesse caso passaria o dia roendo as unhas cheias de germes.

6) Como se sabe, foi a passagem de boca em boca do cachimbo da paz que provocou a extinção das nações indígenas.

7) Estão em situações de alto risco os moribundos que beijam o crucifixo (ele passa de mão em mão); os condenados à morte (a não ser que a lâmina da guilhotina tenha sido devidamente desinfetada antes do uso).

Umberto Eco adverte: “É desta campanha de educação sanitário que deveriam ocupar-se as autoridades e a imprensa, em vez de fazerem sensacionalismo em torno de outros problemas cuja solução pode ser razoavelmente adiada para uma data a ser oportunamente definida”.

Para não cair numa dessas UTTI (Unidades Terceirizadas de Terapia Intensiva), lembre-se: é melhor prevenir o bolso do que remediar com cheque pré-datado.