Segundo Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, na quarta-feira o Coritiba Foot Bal Club precisa liquidar o Palmeira  ainda no primeiro tempo, com golpes rápidos e precisos, para não deixar ninguém sofrendo. Inclusive o porco. Desde os tempos em que se amarrava o cachorro com linguiça suína da melhor qualidade, a matança de um porco requer prática e habilidade. Não é para qualquer açougueiro, muito menos para qualquer técnico de futebol.

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A morte anunciada do porco começava na ceva, semanas antes, com generoso provimento de grãos e vegetais até o eleito ser entregue ao matador. Sobre uma mesa improvisada com tábuas, quatros carniceiros fortes e experientes seguram o bicho. Dois em cima dele, dois segurando-lhe as patas traseiras, à espera do matador enterrar a lâmina pontuda no peito arfante, pouco acima do coração. Do sangue, nenhuma gota desperdiçada, os jorros vermelhos descendo em cascatas num balde de metal com vinagre para não coalhar.

Um dos mais exímios matadores de que se teve notícias nos Campos Gerais chama-se Angelim, não por acaso centroavante do Irati e, por coincidência, palmeirense roxo. Como eram todos os italianos, torcedores do Palestra Itália que – por ordem de Getúlio Vargas – na Segunda Guerra Mundial veio a se chamar Palmeira.

Angelim era o terror dos chiqueiros, lembra Jaguara. De facada certeira, só um dia o carrasco falhou. Foi quando levantou a pata esquerda do animal estendido e cravou o punhal no sovaco, linha direta com o coração. O bicho jorrou sangue, urrou de dor, com a faca pontuda indo e vindo em vão. A morte não vinha, chegando a dar pena do animal. Angelim retirou então o punhal do fundo do sovaco esquerdo, ergueu-o de novo e cravou fundo no sovaco direito da fera ferida. Só assim o porco faleceu. Era um bicho com as entranhas no lado errado; o coração no lado direito. A anomalia jamais vista nos Campos Gerais fez com que, daí em diante, o Angelin auscultasse o coração do porco antes de qualquer coisa.

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Palavra de especialista. Os matadores do Alto da Glória não podem vacilar no golpe final. Sem dó nem piedade, especialmente o Júnior Urso.