Como fazer um castelo

O compositor Toquinho canta que numa folha qualquer ele desenha um sol amarelo e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo. Simples assim, alguns fazem castelos de areia, outros erguem castelos de cartas. O paranaense Luís Guimarães sonhou fazer um castelo no Batel, e fez do sonho sua morada.

A construção de um castelo é um empreendimento caro, bem sabe o deputado Edmar Moreira. O rei Eduardo I quase quebrou as finanças reais para realizar o seu sonho no País de Gales. Três mil trabalhadores foram contratados, numa época em que os castelos mais modestos levavam cerca de 10 anos para serem concluídos. O Castelo do Guimarães levou quatro anos para ser inaugurado numa festa que sacudiu a cidade, onde foram consumidas 18 caixas de champanha “Veuve Clicquôt”, o serviço foi do Grande Hotel e a guarda-civil usou uniformes de gala para dirigir o trânsito dos convidados.

Inspirado nas paisagens francesas do Vale do Loire, o cafeicultor Luís Guimarães fez o seu castelo com o seu próprio dinheiro, sem assaltar os cofres públicos. Realizou o sonho e escreveu de próprio punho suas memórias de como fazer um castelo, quanto custou e por quanto vendeu.

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“Minhas frequentes viagens à Europa, desde 1911, avivaram minha predileção latente por tudo que é belo. Isto fez-me acalentar a idéia de algum dia possuir uma residência parecida com algumas das muitas, magníficas, que fiquei conhecendo, até que encontrei a pessoa que compreendeu, com perfeição, a minha aspiração: o amigo e inteligente arquiteto Eduardo Fernando Chaves, que projetou e dirigiu a construção daquela mansão que, na época, foi a casa residencial ‘sem paralelo’ no Brasil. Só algum tempo depois, famílias poderosas do Rio, de Recife e São Paulo realizaram construções grandiosas, mas nenhuma de estilo tão puro e aprimorado.”

“A construção foi iniciada em meados de 1924 e terminada em meados de 1928. A grande demora foi pela falta de artesãos competentes, a tal ponto que o próprio Chaves teve que trabalhar de pedreiro em alguns acabamentos. (…) Os aparelhos sanitário, em sua maioria, foram comprados em Paris, no fabricante Jacob de Lafont. (…) Toda a tapeçaria e a ornamentação também vieram de Paris, porque, nos últimos tempos da construção, ofereci uma viagem à Europa para o Chaves, em minha companhia. Então, de posse da planta do prédio, nós encomendamos, em casa especializada, cortinas, reposteiros, tapetes de forração e alguns móveis. Na mesma ocasião compramos, nos armazéns alfandegários de Paris, os tapetes persas que guarneciam todos os salões da casa. (…) Estivemos na manufatura de Sèvres do Governo francês, onde compramos valiosas peças de renomada porcelana. Na seção de modelagens do Museu do Louvre, compramos belíssimas reproduções de obras de arte. No ano anterior eu, pessoalmente, havia estado em Florença, onde adquiri várias obras de arte, de mármore, originais. O mobiliário do castelo foi feito no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e pelo curitibano T. Ritzmann, notável entalhador.”

“A soma total dos gastos com a obra ficou em 20 mil libras-ouro. (…) O montante inclui duas viagens à Europa, todo o mobiliários, ornamentação, obras de arte, tapeçaria. (…) Quando vendi a propriedade, retirei móveis cortinas e tapetes. Algumas esculturas e os móveis do salão principal, vendi em separado ao comprador, Moysés Lupion. Da outra parte das obras de arte, fiz presente aos meus filhos, mas a grande maioria reservei para o meu uso e conservo com carinho. (…) Com as retiradas, o custo total da propriedade ficou reduzido a 15 mil-libras ouro; o valor, na ocasião, significava 40 mil libras-ouro, ou seja, 600 contos de réis. A venda foi efetivada por três milhões de cruzeiros, ou seja, três mil contos de réis, e mais 80 contos referentes a móveis e obras de arte vendidos à parte. Era o ano de 1947.”

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Luís Guimarães era um camarada formidável. Com todo respeito à família Lupion, justiça seja feita e que este nome prevaleça: Castelo do Guimarães.