Comigo ninguém pode

Jorge Carlos Sade não é do tipo venenoso. É uma espécie de gente que fica quieta no seu canto, a Galeria de Arte Acaiaca, um dos cantos mais charmosos do Setor Histórico de Curitiba. No entanto, quando lhe pisam no brio, não se cala. Na década de 70, Sade expunha neste O Estado do Paraná uma coluna semanal com o nome de Dieffenbachia Sade. A folha impressa não destilava veneno. Causava urticária.

Dieffenbachia seguine é o nome científico de uma planta mais conhecida como ?comigo-ninguém-pode?. Folhagem muito apreciada para ornamentar interiores, sua popularidade como planta doméstica vem da fama de ?espantar o mau-olhado e os maus-espíritos?.

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No Mural do Leitor da edição de ontem deste jornal, Jorge Carlos Dieffenbachia Sade voltou à cena com um maço de urtigas. ?Sempre fui crítico da cultura (?!) oficial? – assim começa a missiva do artista plástico e marchand-de-tableaux, autor da sigla que até hoje persegue a Fundação Cultural de Curitiba: FuCuCu. Para Dieffenbachia Sade, repartições culturais, sejam elas federais, estaduais ou municipais, todas elas, sem exceção, ?são cabideiros de emprego, salões de festa à custa do dinheiro público?.

Maracutaia é uma palavra recorrente na linguagem sibilante de Jorge Carlos Sade: ?Por essas e outras, nunca fui tolerado pela cultura oficial. Me discriminam, sempre. Tanto fizeram que, parece, agora conseguiram?.

Conforme a denúncia de Sade, foi ?urdida nos bastidores? uma manobra para expulsar a tradicional Galeria Acaiaca do local onde está instalada desde 31 de maio de 1974. Um juiz substituto ordenou que a tradicional galeria de arte desocupasse o endereço da Praça Garibaldi, 53, alugado desde sua fundação à viúva dona Emma Mohr.

?E para quê?? – pergunta e responde o missivista – ?Simplesmente para o tal Provopar (Programa do Voluntariado Paranaense, órgão de ação social do Estado), que tem imóvel próprio, um casarão na esquina da Dr. Muricy com Saldanha Marinho, tomar posse do número 63 (foi uma loja de velharias chamada Porta Portese) e do número 53, pagando R$ 12 mil mensais, por cada loja e, o que é grave, pagos com o dinheiro do contribuinte, com dinheiro público!!! ( A diretriz do tal voluntariado é irmã do governador… É preciso dizer mais?!)?.

?E para quê??, volta a indagar o despejado: ?Para uma atividade comercial questionável, ilegal, imoral e concorrência desleal para com o comércio de artesanato legitimamente estabelecido na região do setor histórico e com alto custo operacional, fiscal e trabalhista. Lamentável que tais órgãos sejam máquinas de lavar o óbvio, lavanderias, ajudadas pela miopia do TC, do MP, do TJ, etc…?.

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Jorge Carlos Sade foi quem idealizou a Acaiaca como a primeira galeria de artes plásticas do Paraná em termos realmente profissionais. Pioneira, desde a idealista galeria Cocaco, nos anos 50s, a Acaiaca marcou uma evolução em nosso mercado de artes plásticas, tornou-se um centro cultural alternativo, sem ajuda oficial – ressalte-se.

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Bonita e venenosa, nos Estados Unidos a Dieffenbachia é conhecida como ?dumb-cane? (cana-do-mudo). Sua ingestão provoca a perda temporária da fala. Apesar do mau-olhado e dos maus-espíritos, Jorge Carlos Dieffenbachia Sade não está mudo. Não perdeu a capacidade de denunciar o mau espírito que, à sombra do poder, jacta-se com pompa e pose: ?Comigo ninguém pode!?.