Curitiba é o paraíso da gastronomia caixa-baixa. Das boas coisas ao alcance de qualquer um. Desde os velhos tempos dos garçons Borá e Conrado da Cinelândia, no final da Galeria Tijucas, um dos melhores defeitos do curitibano é comer bem e barato.

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O escritor Jamil Snege foi um dos primeiros a louvar as delícias da nossa baixa gastronomia. O primeiro foi o pernambucano Fernando Pessoa Ferreira. Ao aconselhar a abandonar a sempre igual gororoba de sábado (o churrasco medíocre do cunhado e a abominável lasanha da sogra), Snege elevou à categoria cinco estrelas as deliciosas porcarias de Curitiba: “Esqueça que você é um cidadão ou cidadã da classe média, com ares de bacana, e mergulhe de corpo e alma no roteiro da baixa gastronomia de Curitiba. São multidões de pastéis, sanduíches, empadas, empanadas, crepes, espetinhos, bolinhos, croquetes, bocados vários. Delícias que se oferecem à gula do passante em barracas, tascas, botecos, biroscas – quando não em isopores volantes e tabuleiros improvisados.”

Recentemente o crítico André Barcinski, da Folha de S. Paulo, escreveu que, “com a modernização da culinária e a hipervalorização da alta gastronomia, as pessoas estão ficando cada vez mais ‘sofisticadas’, mas cada vez mais chatas. Elas discutem o prato em vez de comer”.

Para quem tem preguiça de discutir a metafísica da abobrinha, Barcinski (com esse sobrenome André deve ter um pé no Bigorrilho) fez o “Guia da culinária ogra” e ficou surpreendido com a quantidade de leitores solidários e famintos, como ele, por comida sem frescura.

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Com todo respeito ao bem-informado Barcinski, há muito tempo o curitibano se orgulha de seus sanduíches da categoria “ogro”. O X-Montanha, por exemplo, é uma das nossas bizarrices de estimação. Pode ser degustado bem ao lado do Cefet, na lanchonete Montesquieu (Rua Desembargador Westphalen, 918) do japonês Hiroyuki Ota, ou simplesmente seu Zé, cuja especialidade é o tal sanduíche. O nome X-Montanha é bem apropriado.Vem com um ou dois hambúrgueres, maionese, salada, presunto, queijo… e um pastel no meio!

Outro dos nossos celebrados sanduíches da categoria “ogro” é o “Mumu-chorão” do Billy (Rua Bispo Dom José, 2655, Batel), o campeão dos notívagos esfomeados. Com um suculento hambúrguer feito na casa, queijo, ovo, presunto, salada e o toque principal: muita, mas muita cebola frita. Este sanduba “ogro” pesa meio quilo e a lambança é impressionante.

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Para quem não conheceu a baixa gastronomia curitibana dos tempos do Bora e Conrado, vale lembrar que eles serviam uma batida imortal, acompanhada de camarões abissais, sopa de tartaruga, filé de jacaré, paca, tatu e cotia também.

Mais “ogro”, impossível.