O escritor Laurentino Gomes está enfurnado nos Estados Unidos para escrever o seu tão aguardado livro sobre a Proclamação da República. A exemplo dos anteriores, na mesma trilha de sucesso, deve se chamar 1889. Da última vez que Laurentino esteve em Curitiba, para uma palestra da Academia Paranaense de Letras, dei a ele um exemplar da primeira edição do livro “O Brasil Anedótico”, de Humberto de Campos, uma preciosidade do humor político brasileiro. Mesmo um tanto prejudicada, a edição de 1951infelizmente foi esquecida por Laurentino na mesa do Txapela, depois de alguns copos de vinho.

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Também com a cabeça nas nuvens, só agora – justamente no dia 15 de novembro -, eu lembrei que deveria ter enviado o livro para o State College, na Pensilvânia, cidade universitária a duas horas de NovaYork e onde fica a Universidade de PennState.

Revisitando as anedotas políticas de Humberto de Campos, deduz-se que a Proclamação da República daria um roteiro na medida para um filme de Woody Allen. Com cenas para Laurentino bordar com muito humor o texto de seu novo campeão de vendas.

Marechal Deodoro, por exemplo, era um figuraço. Com um pé no Império e outro na República, deveria ter sido o patrono do PSDB. Sempre em cima do muro, jamais contestou que, até às vésperas de 15 de novembro, tivesse servido devotadamente ao Imperador D. Pedro II. A sua adesão à República foi em cima da hora, no dia 10 ou 12 de novembro, segundo Humberto de Campos.

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Certo dia, já presidente da República, Deodoro recebeu no Itamaratyum cavalheiro que alegava ser republicano de longa data, lutando pela República desde 1875.

Deodoro da Fonseca só tinha cara de brabo. Bem pachorrento, respondeu:

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-Pois eu, meu caro senhor, não dato de tão longe.

E depois de bocejar completou:

-Eu sou Republicano de 15 de novembro, e o meu irmão Hermes de 17, dois dias depois.

Pior aconteceu com o Visconde de Ouro Preto, preso na noite de 15 para 16 de n ovembro. Alta noite, entra o tenente Mena Barreto batendo as botas na cadeia do quartel, em altos brados:

-Acorde, e prepare-se, que mais tem de ser fuzilado!

Ouro Preto se botou de pé e respondeu no mesmo tom:

-Só se acorda um homem para fuzilar! Nunca para o avisar de que vai ser fuzilado!

O Visconde acabou sendo exilado e tudo não acabou em pizza porque em 1889 as napolitanas ainda não tinham chegado ao Brasil.