Com o diabo no corpo

Para quem prometeu fazer o diabo para ganhar a eleição, o encerramento da campanha de Dilma Rousseff no Nordeste estava dentro das expectativas. Num discurso de quem parecia estar com o diabo no corpo, Lula comparou os tucanos aos nazistas, responsáveis pelo Holocausto judeu na 2ª Guerra Mundial: “Se o Nordeste ouviu, leu ou viu as ofensas contra nós, o preconceito contra nós… De vez em quando, parece que estão agredindo a gente como os nazistas agrediam no tempo da 2ª Guerra Mundial. Eles são intolerantes. Outro dia eu dizia para eles, vocês são mais intolerantes que Herodes, que mandou matar Jesus Cristo quando ele nasceu com medo de ele virar o homem que virou. E vocês querem acabar com o PT, com a nossa presidente, querem achincalhar ela, chamar ela de leviana. Só pode ser feito por um filhinho de papai.”

Em boa hora o ex-presidente compara os tucanos aos nazistas, justamente quando estou a ler a biografia de Joseph Goebbels, o famigerado ministro da Propaganda de Hitler.

Depois de assumir o Ministério da Instrução Pública e Propaganda, no dia 14 de março de 1933, uma das suas primeiras iniciativas foi convocar os representantes da mídia. No dia 29 de março recebeu donos de jornal e representante da Associação da Imprensa Alemã. No seu discurso, explicou que a mídia devia “não só informar como também instruir”. Especialmente a “excelente imprensa nacional” precisava “enxergar uma situação ideal” no fato de ela ser “na mão do governo uma espécie de piano que o governo pode tocar”.

No dia 6 de abril, ao lado de Hitler fez um discurso aos jornalistas de Berlim, sobre o tema “Imprensa e disciplina nacional” – que se pôde compreender como um adeus definitivo à liberdade de imprensa: “A opinião pública é fabricada – frisou -, e quem participa da construção da opinião pública assume uma responsabilidade enorme perante a nação e perante o povo”.

Para a imprensa, essa responsabilidade acarretava a tarefa de fazer a eventual crítica sempre “no quadro de uma disciplina espiritual nacional geral”. E ameaçou quem se opusesse a essa tarefa de ser “excluído da comunidade das forças dispostas a construir e considerado indigno de participar da construção da opinião pública do povo alemão”. Além disso, Goebbels anunciou uma lei de imprensa e lançou o slogan segundo o qual, futuramente, era preciso ser “uniforme nos princípios, mas multiforme nas nuances”.

Goebbels podia mancar de uma perna, mas não dava mancada em seus discursos: “Pouco importa no que acreditamos, contanto que acreditemos!”. E para quem duvidava de sua capacidade de convencer o povo com suas desbragadas diatribes, tinha a resposta pronta: “Todo pensamento é correto, basta saber fundamentá-lo apropriadamente”. 

No palanque de Hitler, o ministro da Propaganda tinha o diabo no corpo!