Com ele ou sem ele?

Antes de convocar um plebiscito que autorize a convocação de Assembleia Constituinte específica para fazer a reforma política, a presidente Dilma deveria esclarecer ao povo brasileiro a diferença entre um plebiscito e um referendo. Caso contrário, o povo vai ficar discutindo durante meses o assunto, como ainda acontece com certas “diferenças ideológicas” entre presidente e presidenta.

Esclarecida a questão (o plebiscito é convocado previamente à criação do ato legislativo ou administrativo, e o referendo é convocado posteriormente, cabendo ao povo ratificar ou rejeitar a proposta), o segundo passo seria convocar, antes do plebiscito, um referendo para saber se o povo brasileiro quer ou não quer uma Constituinte com Sarney dando as cartas na base governista.

Enquanto isso, muitos ainda vão ficar é na dúvida se, no caso do senador José Sarney, do alto de sua capitania hereditária do Maranhão e Amapá, seria cabível um plebiscito ou um referendo. Sabendo-se que o referendo é um instrumento de democracia direta por meio do qual os eleitores são chamados a pronunciar-se por sufrágio direto e secreto sobre assuntos de relevante interesse à soberania nacional, até o deputado Tiririca compreende porque nada neste país, nas últimas décadas, é mais relevante para a governabilidade do que esta instituição chamada José Sarney. De Tancredo Neves em diante, são quatro os poderes do Brasil: o Legislativo, o Judiciário, o Executivo e o Sarney.

Convocar uma Constituinte com José Sarney sendo o ventríloquo da bancada do governo, carregando no colo Renan Calheiros e demais expoentes do atraso, seria o mesmo que indicar Fernando Collor de Mello para fazer o papel de Ulisses Guimarães na Assembleia Nacional Constituinte de 1988.

Política é como nuvem, dizia o ex-governador mineiro Magalhães Pinto: você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou. De um dia para o outro, Dilma teria recuado da ideia de convocar o plebiscito da reforma política. O motivo de tamanha movimentação de nuvens no céu de Brasília é muito simples. Alguém teria lembrado de uma grave falha no protocolo: 

– Presidenta, o senador Sarney já foi consultado?