Coisas do capeta

Por que diabos estão querendo mudar o nome da Garganta do Diabo (foto), o maior salto das Cataratas do Iguaçu? Até agora a bicharada do Parque Nacional não consegue entender os motivos: o papagaio está uma arara, o bicho-preguiça ficou uma fera e o macaco diz que a idéia veio de uma anta.

Foi o fato mais polêmico da semana passada, ganhou manchete nos jornais. Alega um pastor pentecostal que o nome é baixo astral. É negativo, não traz energia. O pastor descobriu que o nome Garganta do Diabo veio de lenda popular difícil de acreditar: Deus teria ódio de dois índios que foram jogados na boca do inferno e despencaram pela Garganta do Diabo abaixo.

Essa história, vinda da goela de um pastor evangélico, com todo o respeito, nos parece coisa do diabo. Que Deus é misericordioso, até uma anta não tem dúvida. Como também ninguém tem dúvida que o demônio pode baixar na pele de qualquer religioso, não importa o credo. Exemplos não faltam. O rabino Henry Sobel sabe bem que o badanha cabe em todos os figurinos. Líder espiritual judeu, ele foi comprar gravatas numa loja de Miami e lá encontrou o diabo vestindo Prada. Homem de fé que não resiste a uma roupa de marca, Sobel está até agora tentando desatar o nó da gravata que o medonho lhe atou no pescoço.

Deus só tem um, e são muitos os diabos: medonho, badanha, satanás, satã, lúcifer, belzebu, espírito das trevas, beiçudo, excomungado, arrenegado, canheta, capeta, coisa-ruim, malino, temba, carocho, diacho, capa-verde, futrico, pé-cascudo, pé-de-gancho, malvado, exu, tinhoso, para lembrar o nome de alguns poucos. Os partidários da mudança do nome da Garganta do Diabo podem escolher à vontade. Se for para trocar o nome daquela infernal queda das Cataratas do Iguaçu, que escolham um dos tantos: Garganta do Canheta, que tal?

Com toda a boa-fé, não podemos imaginar aquele inferno aquático com o nome de Garganta de Deus. Se assim fosse, qualquer criatura poderia se jogar daquelas alturas feito pássaro do paraíso. Deus salva, mas não vamos dar chance ao diabo: aquela garganta é coisa do demônio! E quem não acredita no diabo, que se atire primeiro.

É compreensível que os homens de Deus queiram enxotar o satanás das Cataratas do Iguaçu. Mesmo assim, convenhamos que temos outras prioridades. Antes de tudo,

o coisa-ruim precisa ser erradicado do poder público, esteja onde o belzebu estiver, sem importar a nomenclatura: seja ele o pé-de-gancho que vende sentenças no Poder Judiciário, seja o pé-cascudo deputado ou senador. Xô, satanás do Poder Executivo, arrenega beiçudo de colarinho branco.

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Antes de expulsar o cujo da tríplice fronteira, as boas almas também precisam voltar os olhos para Curitiba. Valha-nos Deus, os capetas vermelhos de Paranavaí transformaram o Alto da Glória numa sucursal do inferno, levaram os coxas ao martírio. Rangendo os dentes, hoje a torcida alviverde está dividida. Grita uma parte daquelas almas danadas ?Xô, satanás!?. Os restantes imploram: ?Xô, pangaré!?.

O diabo, que tem poucos torcedores, gosta de mostrar seus chifres às grandes torcidas,

e ontem compareceu com o ar de sua desgraça nas sociais do Clube Atlético Paranaense. Kyocera Arena, Arena da Baixada, dois nomes condenados ao esquecimento. Depois da acachapante derrota de ontem, com direito a gol contra, o Caldeirão rubro-negro UH! CALDEIRÃO! merece mudar de nome pelos seus próprios méritos: Caldeirão do diabo!

Para o Coritiba, o inferno são os outros. Para o Atlético, o inferno é ele mesmo.