Não cabe ao jornalista contestar a decisão de um juiz. Para isso temos excelentes advogados. No entanto, daqui vai a minha solidariedade ao cartunista Ziraldo, condenado que foi a dois anos, dois meses e 20 dias de prisão, acusado de estelionato pelo registro indevido da marca do Festival Internacional do Humor de Foz do Iguaçu, realizado em 2003. 

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Ziraldo vai recorrer através do mestre René Dotti, a quem muitos paranaenses passam procuração para corrigir este equívoco nascido do ressentimento, da inveja e das picuinhas provincianas de Foz de Iguaçu. Diante deste “clamoroso erro jurídico”, René Dotti nem mesmo vai cobrar honorário: “O aspecto moral da causa é o mais importante. Ziraldo é um artista genial, com uma história de coragem na luta contra a ditadura militar. A publicidade dessa sentença é a restauração trágica de erros judiciários praticados pela intolerância. É um atentado contra a própria arte”, afirmou René Dotti.

Só os parvos poderiam imaginar que o internacionalmente consagrado cartunista viria ao Paraná para borrar sua biografia. Mesmo porque a marca, específica para um evento, nenhum lucro traria depois.

O que aconteceu é que os organizadores, pensando no futuro do evento, procuraram um escritório especializado e o consultor recomendou ao Convention Bureau de Foz que o próprio autor fizesse o registro em seu nome. Assim ele poderia agir judicialmente contra quem praticasse irregularidades. Ziraldo concordou, pois apesar de ser o autor intelectual, não teria como controlar os abusos de fronteira. Sendo assim, cedeu a marca (via documento encaminhado a quem de direito) e autorizou que fizessem o devido registro, como forma de proteção. Todos concordaram que seria a melhor maneira de proteger o desenho.

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Com a credibilidade de Ziraldo, o Festival do Humor Gráfico das Cataratas agregou mídia positiva em favor de Foz do Iguaçu, naqueles momentos em que a cidade era acusada de proteger terrorista. Em troca da generosidade de Ziraldo (e de uma simples operação de registro de marca que não prejudicou ninguém), estamos solenemente concedendo ao artista o título de estelionatário.