Cinq

Porque amanhã é sábado, 2 de agosto, temos um motivo a mais para passar o dia entre frutas e verduras, carnes e peixes, ervas e conservas, temperos e especiarias, doces e salgados, chucrute e vinavuste, comidinhas e bebidinhas. E especialmente abrir um champagne para comemorar os 50 anos do nosso Mercado Municipal.

Muito devemos nos orgulhar do Mercado Municipal de Curitiba. O engenheiro agrônomo Paulo Roberto Popp, consultor agrícola de algumas empresas estrangeiras, recentemente ciceroneou um empresário americano de Seattle e o levou a conhecer dois dos mais importantes mercados públicos brasileiros. Primeiro foram a São Paulo, naturalmente. Melhor e maior da América Latina, o Mercado Municipal de São Paulo é de arregalar os olhos e regalar a boca. Afora tudo que existe de bom e de melhor no planeta, assim de passagem nos dão água na boca os pastéis de bacalhau, os sanduíches de mortadela Ceratti, as prateleiras do Armazém Chiapetta e, ressalta Paulo Popp, as lingüiças calabresas que só iguais na própria Calábria.

É de Seattle o maior e melhor mercado público dos Estados Unidos, o Pike Place Market. Cidade da Microsoft, digamos que este mercado tem a mesma configuração que o de São Paulo e Curitiba: além de centro de abastecimento, é ainda um centro gastronômico, um ponto de encontro da cidade. Não se compara o incomparável, é certo, porém o empresário de Seattle ficou também muito impressionado com o nosso Cinqüentão de Curitiba. Observadas as dimensões da economia local, tão bom quanto o Pike Place Market. Entre o paulistano e o curitibano, observou o empresário americano, o nosso Mercado Municipal ganha no quesito aconchego. Por ser bem menor que o de São Paulo, somando a megalópole, o aniversariante de amanhã ainda mantém o espírito de uma “festa de interior”, com relações mais estreitas e afetivas entre o feirante e o freguês. Enquanto aqui o japonês que vende é quase um membro da família do polaco que compra, no Armazém Chiapetta, por exemplo, só por muita sorte é possível encontrar o italiano atrás do balcão.

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É muito atrevimento de minha parte escrever sobre o nosso Cinqüentão, tendo como leitor o jornalista Mussa José Assis, um filho de libanês que é capaz de fazer a feira de olhos fechados, distinguindo cada velho amigo japonês pelo perfume das frutas e verduras.

Mesmo assim, posso dizer que o Mercado Municipal ficou ainda melhor nos últimos dez anos. Especialmente depois da última reforma, conduzida pelo ex-prefeito Cassio Taniguchi. Não tem, é verdade, a lingüiça calabresa de São Paulo. O sanduíche de mortadela Ceratti já tem, no Maia Box. E, na categoria “prato feito”, fazem fila no Box do Elizeu para saborear feijão com arroz, bife e batatas fritas, servidos em corretos pratos de louça.

Sabe-se, a Prefeitura está para iniciar mais obra no Mercado, agora com a construção de um anexo dedicado à gastronomia. Ainda não conhecemos o projeto, porém temos quase certeza que os arquitetos do Ippuc, com seus comprovados talentos, não desenharam para o Cinqüentão alguma coisa parecida com uma “praça de alimentação”; e perdão por usar essa abominável expressão.

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Aqui no Sul, o empresário de Seattle só não conheceu o Mercado Municipal de Florianópolis. Sem considerar a beleza da velha arquitetura, a barulhenta oferta de peixes frescos e o sofisticado Box 32, o visitante não perdeu muito. São duas históricas edificações gêmeas. De um lado, temos um mercado que soma abastecimento, gastronomia e ponto de encontro. Do outro (ala que sofreu um incêndio e foi reformada) temos um camelódromo de envergonhar os catarinas, rosário de lojinhas vendendo plásticos de 1,99, sapatos, galochas e sandálias havaianas.

Vendo aquela babilônia de bugigangas, é forçoso dizer que no Mercado Municipal de Florianópolis está faltando japonês: se não todos os nossos, pelo menos Cassio Taniguchi. Por sinal, feliz proprietário de simpática cobertura na Beira Mar Norte da ilha.

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Então fica combinado assim: amanhã vamos brindar com champagne, ou mesmo com guaraná, os 50 anos do nosso Mercado Municipal.