Cinema de cartão postal

(Diário de Roma)

A crítica italiana não foi tão condescendente quanto Woody Allen foi generoso com “To Rome with Love”. Um dos poucos jornalistas a sair em defesa do filme talvez tenha sido Goffredo Fofi, articulista da página editorial do jornal “Il Messagero”. Assim como o cineasta tratou Londres, Barcelona e Paris, este último filme de Woody Allen é uma melosa comédia caça níquel para atrair turistas desavisados, disparam os críticos, indiferentes à produção que, em termos de divulgação, chamou para si as belezas de uma cidade antes considerada uma das mais belas do mundo.

Antes de qualquer debate, lembra Goffredo, é preciso reconhecer a dignidade do trabalho de um autor com tradição, aquela das histórias em quadrinhos de Jules Feiffer e do humor hebarico-novaiorquino. Em seguida, diga-se que o cineasta viu Roma com “vero amore”, de uma beleza explosiva e formidável. Como se fosse uma Roma de cartões postais – “è vero, ma che belle cartoline!” – ainda a cidade mais bela do mundo, dos tempos da “Dolce vita” de Fellini. “La più bella città del mondo”, como se isso ainda fosse verdade, Woody Allen registrou Roma imaginando Marcello Mastroianni e Anita Ekberg descendo a Via Vêneto com os paparazzi atrás.

Infelizmente os críticos de “To Rome with Love” têm certa razão. O roteiro de Woody Allen, quando em algumas cenas mais relaxadas não nos remete às pornochanchadas do cinema brasileiro, seria verossímil se Roma não sofresse hoje com a invasão agressiva dos turistas estrangeiros e também italianos, não tivesse tanto automóveis e motocicletas, fosse resguardada do barulho absurdo, da sujeira e do mau cheiro, liberada da poluição publicitária – e sobretudo, ressalta Goffredo Fofi -, se a cidade estivesse a salvo de administradores públicos tão incapazes.

Em suma (como os italianos gostam de encerrar uma conversa), “To Rome with Love” em algumas cenas lembra as sequências que os brasileiros estão acostumados a ver de dois em dois anos no horário eleitoral obrigatório da televisão. Nossos marqueteiros -“è molto vero”- não têm o talento de Woody Allen para escrever roteiros, mas não perdem muito quanto às imagens de cartão postal.