Chuncho

(De Paris) – ”Quando o processo histórico se interrompe, quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para se abrir um bar.”

A citação do poeta inglês W. H. Auden, que o escritor Antônio Callado usou como epígrafe de seu livro “Bar Don Juan”, parece bem apropriada para Dilma Rousseff chamar o ministro Palocci num canto e, com seu delicado jeitão de sargentona, aconselhar o afortunado consultor petista:

– Companheiro, com esta fortuna arrecadada nas boas graças do governo, você devia abrir um bar.

E com toda essa grana, o ministro Palocci devia embarcar na primeira classe de um avião para Paris e comprar a cantina que acabei de conhecer bem no miolo do Quartier Latin, o pedaço mais movimentado desta cidade que é uma festa: El Chuncho é o nome de um bar no número 59 da rua Saint André des Arts, ao lado de monumentos históricos, dos melhores bares de jazz, dos pubs mais agitados, dos restaurantes de várias etnias e com uma freguesia de quem acabou de se formar na Sorbonne.

Para Antônio Palocci et caterva, o nome não poderia ser mais justo. Um bando merecedor de um boteco com tal nome. Principalmente aqui no Paraná, onde “chuncho” significa maracutaia, falcatrua ou trapaça.

Além de sua importância para os falares dos Campos Gerais, é bom lembrar que Chuncho também foi o nome de uma página de humor que saía toda segunda-feira aqui nesta Tribuna do Paraná, bruscamente tirada de circulação no tempo da ditadura.

Francisco El Pancho Camargo, um dos criadores do suplemento censurado, falou e disse: “Confesso que ouvi `chuncho’ pela primeira vez com o jornalista Ducastel Nicz, ex-Última Hora, O Estado do Paraná e TV Iguaçu, mas ignoro a origem. O Duca (como era chamado o falecido jornalista) chegou a Curitiba vindo de Ponta Grossa”.

E é de Ponta Grossa que vem o parecer abalizado do professor Hein Bowles, autor do livro “Jacu Rabudo”, o abecedário dos Campos Gerais:
“No Dicionário Sociolinguístico Paranaense, de Francisco Filipak, temos o seguinte verbete: `Chuncho. S.M. (PR) 1. Negócio escuso, desonesto, ilícito, trambique. 2. – FOZ – Nome que a população ribeirinha, do Rio Paraná, dava à maleita. Os dicionários de língua portuguesa não têm essa palavra. Então, pesquisando no Google, encontrei uma ave de rapina com esse nome (El ChunchoGlaucidium nanumquehabita entre Atacama y Tierra del Fuego. Em seguida, procurei, em dicionários espanhol/português, a tradução para `chuncho’, mas não encontrei nada, talvez, e inclusive, porque parece que essa ave não habita o território brasileiro”.

Aqui em Paris não se fale em outra coisa, além da torcida do Coritiba Foot Bal Club: El Chuncho é o bar da turma do Palocci.