Cheque ao portador

Na edição de ontem, lembrei de Luiz Fernando Arzua, personagem da fuzarca com direitos autorais reservados ao cronista Nireu Teixeira. Entre outras afinidades (uma deles o bom caráter), Nireu e Luiz Fernando tinham em comum a arte de contar histórias, fazer amigos e agregar pessoas. Das poucas diferenças entre os dois grandes amigos é que Nireu era prosador também da palavra escrita e aquele deixava a caneta a cargo dos amigos. O que era o meu caso. Não convivi tanto quanto gostaria com Luiz Fernando Arzua e Nireu Teixeira. Porém, nas inesquecíveis oportunidades em que tive o privilégio de sentar àquela mesa de prosadores, noite adentro, cumpria o papel de ouvinte aplicado e, a pedido, calígrafo dos cheques de Luiz Fernando. Fim de noite ele me passava a caneta e o talonário, não sem antes anunciar: “Modéstia à parte, tenho um cartunista exclusivo para preencher meus cheques”.

Modéstia à parte, digo eu: caprichava na letra, porque de graça, e com graça, ouvia o rosário de causos e ainda guardo na memória uma das frases que entrou para os anais da boemia curitibana: “Você pode levar um tiro na catedral. Mas na Vila Parolin é mais provável”.

Para quem está chegando agora, a Vila Parolin foi a mais popular zona de prostituição de Curitiba. Conto um pouco de sua história no livro que já está indo ao prelo para ser lançado em setembro, “Maria Batalhão – memórias Póstumas de uma Senhora Cafetina”.

De tanto ouvir histórias dos mestres prosadores, aprendi a preencher cheques. Tanto que só um deles voltou, este dos guardados da filha Luciana Sicupira Arzua: “Ao portador a promessa de continuar um eterno ouvinte, morrendo de rir. Ctba, 18 de dezembro de 1980”.

Caprichei na letra e assinei o cheque do próprio Luiz Fernando Arzua.