Chega de promessa. Queremos utopias!

Os discursos dos candidatos a prefeito continuam os mesmos, estreitos como sempre. Segurança, transporte, saúde e educação, os males da propaganda política são. Não são sinônimos de virtudes, atributos, dotes ou qualidades. São obrigações da administração pública. São direitos, estão na constituição. Chega de números. Queremos utopias.

Anti-candidato a prefeito de Curitiba pelo Partido da Utopia (PDU), o escritor Wilson Bueno revelou neste domingo suas intenções de governo. Ao comentar a recém-lançada reedição do livro Rio. Da província à metrópole, de Oscar Niemeyer, uma espécie de “carta-testamento” do mestre sobre a cidade onde nasceu e vive há mais de cem anos, Bueno mostrou em forma de crônica a que veio sua anti-candidatura: “As propostas de (Niemeyer) chegam a soar absurdas não fossem deliciosamente sonhadoras. Utópicas como as reiteradas utopias de nosso ainda mais utópico Partido da Utopia (PDU). E não se esqueçam também que o anti-candidato a prefeito que vos fala, bem como seu vice (Dalton Trevisan), são devotados, claro, mais ao sonho do que à razão”.

Wilson Bueno tem saudade do futuro. O PDU não só é absurdamente otimista, como também vê a cidade do jeito que o impossível gostaria que ela fosse. É um partido sem número e endereço, com sede própria na imaginação. Na mesma rua da imaginação onde todos os outros partidos deveriam estar estabelecidos.

Na estreiteza do proselitismo político, os postulantes oficiais tratam nossos direitos como se fossem prerrogativas, concessões e vantagens que só eles têm o privilégio de conceder. Devia constar na propaganda do horário político gratuito: “O TRE adverte: segurança, transporte, saúde, emprego educação, não é mais do que obrigação. É o que retorna dos tributos”.

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“Oscar Niemeyer, nosso mestre e guru, do alto de seus quase 101 anos, tem razão”, reitera Wilson Bueno. “E, portanto, o PDU o elege como patrono e reserva moral de nossas hostes.”

Ao lado de Oscar Niemeyer e Thomas More, os correligionários de Wilson Bueno (Dalton Trevisan vice) elegem também como um dos patronos do PDU o lendário anarquista italiano, cientista e sonhador Giovanni Rossi. Utopista militante, o criador da Colônia Cecília escreveu no início do século passado o que hoje está nos anais de fundação do Partido da Utopia (PDU).

“Aos vinte anos começar pela utopia, aos trinta passar à experimentação e, aos quarenta, voltar novamente à utopia: o percurso dessa evolução poderia parecer a muitos o caminho em círculo de um espírito desiludido, mas indomável. Ao contrário, ele significa o andamento em espiral de uma consciência que se desenvolve em torno do próprio eixo e ganha o alto. Trata-se de uma utopia. Pessoas sisudas riem dela, ou melhor, nem têm interesse em conhecê-la.”

“Mas é realmente assim? A utopia é uma forma, um artifício literário para representar as coisas de maneira mais digerível; e num romance ou num conto pode haver tantas verdades quantas são as mentiras que podem estar contidas num respeitável tratado de economia política.”

“Se as pessoas que lêem e, de modo particular, as que sabem ir além de uma simples leitura, não devem ser tão loucas como se acredita. Se o olhar sobre o futuro for pura demência, espera-se que as pessoas se dêem conta disso. Se, ao contrário, na minha maneira peculiar de ver as coisas houver algo de bom, de racional, de possível, então, poderíamos voltar a falar sobre tal assunto e, certamente, o mundo não irá desmoronar-se se o antigo ideal tiver de ser examinado de um novo ponto de vista.”

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Senhoras e senhores, a candidatura de Wilson Bueno a prefeito (Dalton Trevisan vice) é como o escritor mesmo diz, e nós assinamos embaixo: “É bem mais que declaração de amor a uma cidade, não abre mão do sonho, mesmo que inviável, mesmo que não exequível, mesmo que impossível de acontecer. E não seria dessa natureza a felicidade sobre a Terra?”.