Champagne, lagosta e madame

O animador de velórios dos Campos Gerais passou o final de semana em Curitiba, consolando amigos e familiares dos empreiteiros hospedados no cinco estrelas da Polícia Federal.
– Me atipei com o Sergio Moro. No meu modo de ver, ele seria o próximo candidato a presidente da República. Com o Joaquim Barbosa de vice!

– Mas isso não seria fazer do Brasil uma República de advogados?

– A ladroagem é tanta que só um causídico de porta de cadeia para dar uma basta nesta sangria desatada dos cofres públicos.

– Isso não significa dizer que todo advogado está acima de qualquer suspeita?

– Com todo respeito à classe, modéstia à parte sei do que costumo falar. Os advogados são um dos principais temas de minhas palestras de luto. Quando o clima está meio pesado no guardamento, é tiro e queda: passo a contar histórias do Judiciário. Certa feita, por exemplo, um dentista morreu e, por erro do Centro de Processamento de Dados do céu, o mesmo foi parar no inferno. Chegando lá, o odontólogo começou a trabalhar e deixou os diabinhos com a boca que era um brinco. Mas a alegria do Satanás durou pouco. Logo recebeu um e-mail do céu informando o erro. O Diabo então disse que não iria devolver o dentista, pois o trabalho dele era um primor. Então Deus se indignou:
– Ponha-se no seu lugar, Satanás! Isso não fica assim! Eu vou tomar minhas providências no Supremo Tribunal Federal.

O diabo não se intimidou e respondeu:

– Quero ver onde você vai encontrar um advogado!

Piada de advogado levanta até defunto, conta o Animador de Velórios dos Campos Gerais. E não só de advogado: de juiz, desembargador, promotor, o diabo! – se diverte o Jaguara.

– Conto muito as histórias do meu falecido amigo Oney Barbosa Borba. Historiador dos Campos Gerais e grande escrevinhador de causos, o Barbosa Borba dizia que o bairrismo da gente de Castro era o mais extremado do Paraná. Lá tinha um camarada chamado José da Ribeira que, quando nasceu o primeiro filho, em homenagem à terra deu-lhe o nome de Castrito. O segundo chamou-se Castrozinho. A caçula, menina, foi registrada como Castrolanda. E não ficava só na família: o cachorro era Iapó, a gatinha era Iapoleta e o papagaio só atendia pelo nome de Castroso. O melhor queijo do mundo era o de Castro e o rio mais piscoso do Paraná era o Iapó.

No tocante ao Judiciário, o Jaguara gosta muito da história do Chico Buzina. Subdelegado de Tibagi, ele entrava a cavalo em salas de baile, fincava as esporas da paleta à virilha do matungo e o fazia corcovear. Chico Buzina sabia fazer justiça. Quando em 1945 a criminalidade em Tibagi era de assustar, Chico Buzina dizia ao Barbosa Borba:

– Não é nada, parente, o povo daqui é até muito bom. Nas grandes cidades os crimes são mais complicados. Matam-se, ferem-se todos os dias e vocês não sabem a causa. Botam na cadeia o sujeito e a justiça se satisfaz. Aqui não. Desde que sou subdelegado, só conheço três tipos de crimes. Se um briga, quebra a cabeça, ou fura a barriga do outro, logo descubro a causa. Não é preciso auxílio de bacharel. Vou direto às raízes: ou é cachaça, ou é porco, ou é mulher!

Afirma o Animador de Velórios dos Campos Gerais que o caso da Operação Lava-jato, com todos aqueles bilionários da Petrobrás, tem muito a ver com a teoria do Chico Buzina:
– Ou é champanhe, ou é lagosta, ou é madame!