Depois de sete dias e sete noites chovendo em Curitiba, levantei a voz ao céu e perguntei:
– Meu Deus, onde não está chovendo?
Uma voz me respondeu lá do alto:
– Em Céu Azul!
A voz não era Dele, era de São Pedro, a quem retornei:
– Por que em Céu Azul não chove?
Pedro explicou:
– Elementar, meu filho: é por que lá é Céu Azul!
Olhando lá de cima, São Pedro localiza Céu Azul junto a uma inacreditável mancha verde, cidade com um quintal privilegiado, parte da reserva nacional Parque do Iguaçu. Fica entre Foz do Iguaçu e Cascavel, a 51 quilômetros, em linha reta, da represa de Itaipu.
Azul e verde, portanto, devem ser as cores da bandeira da cidade, para a qual liguei imediatamente:
– É da Prefeitura de Céu Azul?
– Sim, Secretaria de Turismo de Céu Azul.
– Por favor, gostaria de algumas informações.
– Quantas precisar.
– Por que Céu Azul?
– Porque aqui o céu é azul! Quando chegaram os primeiros colonos alemães e italianos, eles armaram acampamento no morro, onde está localizada hoje a igreja matriz. Sentados embaixo de um pé de imbuia para descansar, observaram que o céu estava nitidamente limpo, sem nenhuma nuvem, resplandecendo o azul celeste. E, pelo lado do Parque Nacional do Iguaçu, o azul-escuro.
– E deram o nome de Céu Azul! Qual o índice pluviométrico do município?
– Não temos esses números. Uma vez tentaram medir, mas desistiram, porque aqui não chove. Se chovesse, a cidade teria que mudar de nome. Aqui só chove soja, milho e trigo.
– Então chove dinheiro!
– Quando a safra é boa, o gado é gordo e o governo não atrapalha, chove colheitadeira nova, carro novinho em folha, muito churrasco e cerveja.
– E água? Tem água com o céu sempre assim, azul?
– Água é que não falta: de um lado, o Parque Nacional do Iguaçu, um mar de verde; do outro, o lago de Itaipu.
– E como é feita a irrigação da terra?
– À noite, com o sereno da Lua. O orvalho mata a sede do gado e molha a lavoura com abundância, nas noites de Lua cheia.
– Essa cidade é um milagre da natureza!
– Da natureza, não! É um milagre de São José Operário, o padroeiro que nos abençoa do alto do morro da igreja matriz.
– E as crianças de Céu Azul, nunca jogaram futebol na chuva? Os homens nunca andaram de guarda-chuva e as mulheres nunca usaram sombrinha?
– Sombrinha só nos dias de verão. Guarda-chuva só foi visto um, quando o promotor público de Curitiba veio morar em Céu Azul. Passou vergonha, o coitado, ainda mais de galocha! Por falar nisso, é verdade que em Curitiba metade da população usa galochas?
– É verdade. Galochas e meias brancas! E é justamente de Curitiba de onde eu estou falando. Aqui chove sete dias e sete noites sem parar, será que vocês podem nos emprestar um pedacinho desse céu azul?
– Com o maior prazer, mas infelizmente o nosso azul é intransferível, é único no mundo. O que podemos emprestar são as orações de São José Operário, quem sabe assim o nosso padroeiro envie um pouco de sol para Curitiba.
– Poderiam nos enviar urgentemente essas orações de São José?
– Amanhã mesmo vamos remeter as orações de São José Operário, na escrita original de Roma.
– Que o padroeiro de Céu Azul nos ajude e guarde! Precisamos muito de suas preces.
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Esta crônica, do meu livro “Serra abaixo, serra acima – O Paraná de trás pra frente” é a prova de que ficção e realidade volta e meia andam de mão dadas. Que nessa estiagem São José Operário empreste os aguaceiros de Curitiba ao Céu Azul.