Cem anos de Ilusão

Embora a manhã siberiana de sábado passado não estivesse convidativa para a poesia, alguns resistentes curitibanos foram celebrar Emiliano Perneta e o centenário de sua coroação como Príncipe dos Poetas do Paraná. Os celebrantes não foram resistentes apenas pela idade (pois muitos deles eram outros jovens poetas), ou ao frio, mas podemos chamar de valentes os admiradores de Emiliano Perneta, que deixaram gravado no bronze da Ilha da Ilusão este verso do poeta: “Toda a madrugada é o começo do mundo”.

“Ilha da Ilusão”, ao contrário do que podem imaginar 99,9% dos curitibanos, não é um pedaço de terra cenográfico na Disneylândia, cercado de turistas por todos os lados. É uma ilhota do Passeio Público que pode parecer que foi feita para guardar o busto de um político qualquer. Ledo (Ivo) engano, diria um letrado.  

Como já descrita pelo mestre Wilson Martins, a cerimônia de coroação do poeta foi o grande momento da poesia paranaense, tendo a ilha como marco:

“Em agosto de 1911, tudo o que havia de intelectual e artístico em Curitiba assistiu à Festa da Primavera numa ilha do Passeio Público a fim de sagrar Emiliano Perneta como “Príncipe dos Poetas” no momento em que publicava o volume “Ilusão”. No ambiente de fervente helenismo então promovido pelo neopitagórico Dário Velloso, os oficiantes, envoltos em clâmides largas e solenes, chegaram em luxuosas carruagens e longas procissões, entoando hinos religiosos da antiga Hélade. (…) Como a um tragedista ou um épico helênico, ou a um poeta da Academia Romana da Renascença, coroaram Emiliano Perneta. A coroa que lhe cingiu a fronte, numa cerimônia nobre e singela, era de louros naturais, mas a dádiva ilustre, que lhe fizeram alguns milhares de admiradores, foi de um simples exemplar de “Ilusão”, revestido de veludo e com o nome e o título em letras de ouro verdadeiro, num cofre de madeiras preciosas, hoje no Museu Paranaense”.

Cem anos depois, a celebração pode parecer extemporânea, mas, como escreveu ainda Wilson Martins, “a admiração a Emiliano Perneta fê-lo vitorioso naquela prova perigosa, em que, dada a cotidianice tediosa do decorum burguês, tal apoteose poderia beirar o ridículo”.