– Imagina no Campeonato Brasileiro do ano que vem?

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Domingo à noite, ao se confirmar que Santa Catarina teria quatro times na série A – Joinville, Avaí, Figueirense e Chapecó, sendo hoje o segundo estado com maior representatividade na elite do futebol brasileiro -, um paranaense parado numa fila de quilômetros nas proximidades de Garuva disparou pela internet o bordão da Copa do Mundo:

– Imagina no Campeonato Brasileiro do ano que vem? A estrada, que normalmente é um purgatório, vai virar permanentemente um inferno!

O contencioso político entre o Paraná e Santa Catarina vem de longe. Começou com a Guerra do Contestado, quando em troca de um colar de diamantes – dizem as más línguas – um prócer da política paranaense teria facilitado as negociações em favor dos catarinenses na questão de divisas. Em poucas palavras, foi mais ou menos assim: em 1904, o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa a Santa Catarina. O Paraná recorreu da sentença e, em 1909, foi derrotado novamente. Rui Barbosa tenta, ainda em 1910, defender a causa paranaense, mas nada consegue. O Paraná recusa-se a aceitar nova derrota, até que em outubro de 1916 os governantes de Santa Catarina, Felipe Schmidt, e do Paraná, Afonso Camargo, sob mediação do presidente da República, Wenceslau Braz, assinam um acordo pondo fim à disputa pelas terras e estabelecendo os atuais limites entre ambos os estados.
No campo esportivo o contencioso não causou tantas vítimas, além dos bodes expiatórios de sempre: juízes e bandeirinhas que normalmente saíam do campo acusados de embolsar polpudas propinas nos confrontos entre o Metropol (o lendário clube de Criciúma) e os times de Curitiba.

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Os catarinas também passaram a perna nos paranaenses na questão do turismo (principalmente depois que Camboriú passou a ser o maior balneário do Paraná), entretanto nada se compara à nova ordem da primeira divisão do futebol brasileiro.

Com quatro times na elite, os vizinhos de baixo estão mais prosas que um manezinho se gabando das glórias do Guga: “O Gustavo Kuerten, não tem?”. Ou então o Fritz de Blumenau descrevendo as medidas de Vera Fischer, ao ganhar a faixa de Miss Brasil: “Ela tinha 90cm de busto, 58cm de cintura, 90cm de quadril e um bumbum deste tamanho!”.

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– Imagina no Campeonato Brasileiro? – repete o camarada, depois de seis horas preso na serra do Mar.

No ano que vem, o fluxo de torcedores entre Curitiba/Joinville; Curitiba/Chapecó; e Curitiba/ Florianópolis, principalmente, vai oferecer bons lucros para quem investir no atendimento hospitalar e jurídico para as torcidas organizadas. E até no ensino do “catarinês”, o idioma de Santa Catarina.

Como se sabe, os quatros times catarinenses na Série A falam línguas diferentes: os joinvillenses falam uma mistura de alemão com o leitE-quentE dos curitibanos, o que resulta algo parecido com alguém tomando chope e mastigando “wienerwurst” ao mesmo tempo; os chapecoenses tem um sotaque “ítalo-eclesiástico-gauchesco”, que seria a mistura dos falares dos italianos, dos seminaristas e dos gaúchos; e os manezinhos de Floripa falam uma coisa e pensam outra: por isso o mais popular esporte local é falar mal da vida alheia.
Para provocar os vizinhos, tinha um tempo em que os paranaenses perguntavam e respondiam:

– Sabe por que os catarinas não padecem de câncer? Porque não acreditam em astrologia!
Os tempos são outros, agora os vizinhos de baixo estão por cima:

– Sabe como se chama um dirigente esportivo do Paraná que usa a metade do cérebro? Um superdotado!