Na era de origem do Mensalão, quando o Caixa Dois era tão inocente quanto o colchão de casa, as doações eleitorais chegavam em malas de couro de crocodilo cheias de dólares. Como os comitês de campanha eram instalados em casas e casarões no bairro chique do Batel, os tesoureiros de campanha trabalhavam de costas para os armários de imbuia abarrotados de sinceras contribuições. Os dólares eram empilhados como latas de sardinha e as verdinhas distribuídas aos fornecedores em sacos de supermercado. 

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Em 1982, a vitória de José Richa para governador foi uma das mais prestigiadas pelos fundos não contabilizados. E a tesouraria do comitê central de campanha não se tornou a própria Casa da Mãe Joana – como era normal – porque todos os recursos passavam pela mão de homem com o nome a zelar: Jayme Canet Júnior.

Com a eleição praticamente garantida, Zé Richa era o Emerson Fittipaldi da época concorrendo com o Felipe Massa de hoje. Tendo como oponente o ex-prefeito Saul Raiz – cujo mote de campanha atribuía aos adversários um futuro “salto no escuro” -, o pai do Beto Richa nadava de braçada nas pesquisas eleitorais. E a cada nova pesquisa, mais simpatizantes de alto bordo batiam na porta do PMDB velho de guerra para emprestar solidariedade à redemocratização do país e do Paraná. Canet, a quem todos temiam e respeitavam, já nem mais atendia tantas almas caridosas.

Abertas as urnas, confirmados os resultados, contabilizadas despesas e receitas, começou uma “corrida do ouro” dentro do partido quando se espalhou a notícia de que não se sabia o que fazer com as sobras de campanha.

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Contava o professor Belmiro Valverde Castor que, de tão assediado para pagar as contas imaginárias de notórios membros do partido, Jayme Canet chamou um assistente e mandou ver:

– Tem um casarão à venda ali na Rua Vicente Machado. Vai lá e fecha o negócio à vista!

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Na semana seguinte o PMDB velho de guerra ganhou uma sede própria. Com papel passado em cartório, graças ao cofre que estava sob a guarda de Canet. Nunca na história das campanhas eleitorais no Paraná as sobras de campanha foram tão bem aplicadas.  

O “Casarão do Caixa Dois” – digamos – é o mesmo que na semana passada foi arrombado por Roberto Requião. Com aliados do PMDB, o candidato ao governo do Paraná precisou recorrer a um chaveiro para abrir a porta e realizar a reunião para defenestrar os adversários de partido.