Mês de maio, mês das noivas, já não fazem mais festas de casamento que duravam três dias. Tempos modernos, as bodas se resumem a um sensaborão salão de festas, e quem se esbalda são os fornecedores.

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Não apenas as festas de casamento, também as festividades de batismo, crisma ou aniversário, nas colônias de imigrantes do Brasil Meridional, duravam três dias. Seja festa de alemão, espanhol, japonês ou italiano. Três dias era o tempo justo para reunir os polacos de cada colônia. Quando os convidados que moravam mais distante estavam chegando, os vizinhos estavam se retirando. Assim em dias de comemorações, assim em dias de velório: um é pouco, dois é bom, três polacos reunidos é bom demais.

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– Matka! Não sei se me acabo casando com vendedor ou com militar! – dizia a namoradeira Iaszka à sua mãe, quando morava com a família na Colônia Tomás Coelho – ?Colónia tomazco velho?, assim era a pronúncia imigrante. Matka, a mãe polaca, era quem botava ordem na casa e orientava a prole.

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– Nie mésmo, Iaszka! Casa com militar! Militar cozinhando, arrumando cama e… obedecendo ordem que é uma maravilha!

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No livro Arte e gastronomia do Paraná, de Fabiano Dalla Bonna, Regina e Lucia Casillo – edição do Solar do Rosário – os autores nos servem uma saborosa descrição de uma ?festa de polaco?.

?Nas cerimônias de casamento, a alimentação também desempenhava um papel importante. Prevendo alimentação para mais ou menos 500 pessoas, por dois a quatro dias, uma cozinheira, kucharka, se alojava na casa da noiva já na segunda-feira.

Na terça-feira, assavam as bolachas de mel com decoração colorida feita à base de glacê e açúcar.

Na quarta-feira, preparavam-se a cerveja caseira (piwo) e a gengibirra mais doce. Na quinta-feira eram assadas as broas (chleb) e o bolo da noiva (kolacz), além da geléia de porco (zimne nogi). Dois ou três porcos eram abatidos pela manhã, tarefa que todo colono sabia fazer; já para matar o boi previamente engordado era necessário chamar o açougueiro, que possuía os apetrechos adequados.

Na sexta-feira, dia no qual se ornamentava o ambiente, a cozinheira se ocupava em preparar os frangos: o frango caipira tinha que ser novo e era doado pelos convidados ao casamento. Os pernis suínos eram assados em forno. Eram fritados os bolinhos de carne (klopse) e os sonhos (paczik). O açougueiro esquartejava a carne de boi. No sábado pela manhã, a cozinheira assava os frangos. Um grupo de mulheres fazia a maionese de batata e ovo. A refeição principal era servida por volta das 15 horas, pois a cerimônia religiosa era oficiada na igreja pela manhã ou, no mais tardar, em torno das 14 horas. Tão logo chegavam da igreja, os noivos serviam o kolacz para os convidados. Os sfaty (pajens) serviam vodka e cigarros para os homens; as druszki (damas) distribuíam balas para as mulheres e crianças.

Então, aos poucos, os convidados se sentavam à mesa. As mesas eram montadas no paiol. A tarefa dos sfaty era servir a carne e a cerveja, enquanto as druszki serviam a comida. Como o espaço não era muito grande e eram poucos os pratos e talheres, era necessário duas a quatro mesadas.

Ainda hoje, quando os paranaenses, principalmente os curitibanos, comentam que uma festa durou vários dias, referem-se a esse tipo de festa como ?festa de polaco?, como sinônimo de alegria e fartura.?

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Quando setembro vier, será lançado o livro A banda polaca – o humor do imigrante no Brasil Meridional. As ilustrações são da polaca Márcia Széliga, e o autor se chama Dante Mendowski.