Casa dos Barões

Já contei aqui e em um dos meus livros, mas por força das circunstâncias é preciso voltar a um assunto muito desagradável. Volta e meia os esgotos de Curitiba exalam odores que não empestam só os nossos narizes. Empestam olhos, ouvidos e emporcalham até a preciosa autoestima que nos resta.

Desta vez a fedentina não veio das campanhas eleitorais, como de costume. Veio como consequência, através do vaso sanitário em que transformaram a Assembléia Legislativa e que agora, aos cuidados de faxineiro que não tem medo de botar a mão no esgoto, fez extrapolar uma podridão jamais imaginada. É tanto bafio, tanto fartum, é tanto bolor, é tanto xexéu vindo da Assembleia Legislativa que deveríamos entregar solenemente a três dos seus membros mais fedegosos a comenda do Barão da Merda, prêmio digno desta temporada malcheirosa.
O Barão da Merda foi um dos personagens mais bizarros da nossa história. Também conhecido como Castelhano, era proprietário de uma empresa sanitária de limpa-fossas de Curitiba. Enriqueceu trabalhando e conduzindo pessoalmente seus negócios, na boleia de uma carroça que recolhia os produtos e subprodutos dos penicos. Se fosse hoje, seria o maior acionista da Sanepar. Ou teria a Assembleia Legislativa como maior cliente.

Quando pobre, ou quando microempresário das fossas, era chamado de Chico Bosta. No início do século passado, porém, ficou tão rico que os invejosos começaram a tratá-lo como Barão da Merda.

As condições de higiene naquela época eram precárias. Algumas casas do centro de Curitiba já tinham sanitários internos. Ao contrário da maioria, que contava apenas com as casinhas construídas no quintal, sobre fossas livres e abertas, cujos dejetos eram simplesmente despejados em valetas que cruzavam os terrenos e desaguavam em riachos próximos. De certa forma, não muito diferente do que acontece hoje, especialmente no nosso litoral. Com a evolução das construções, os despejos eram conduzidos através de encanamento dirigido a fossas cobertas, mas que entupiam com frequência. Com a fedentina tomando conta da Praça Tiradentes, Castelhano, em vista do bom negócio que vislumbrava, criou uma empresa sanitária que fazia a coleta por sistema mecânico de sucção montado numa carroça.

Homem de faro fino para os negócios, ele também atuava na troca e manutenção dos encanamentos que, industrializados de forma rudimentar, arrebentavam no seu trajeto. Ou seja, no meio da casa.

Com o monopólio da bosta, tubos e conexões, o proprietário enriqueceu: começou a se vestir com tecidos ingleses, dos melhores alfaiates. Contudo, não entregou as rédeas da empresa. Para os trabalhos mais fedorentos, contratou alguns ajudantes também chamados de “bosteiros”.

Para a burguesia da época que se encharcava de perfumes franceses e andava pelas ruas de nariz empinado (especialmente em função do cheirume) aquele foi um pobre coitado que, literalmente, saiu da merda: primeiro Castelhano de nome, depois Chico Bosta e, para os que morriam de inveja, Barão da Merda.

Os historiadores não confirmam, porém todos os indícios levam a crer que nasceu em Curitiba o dito popular: A inveja é uma merda!

Antes Casa do Povo, até prova em contrário (no exame de fezes) a Assembleia Legislativa pode ser denominada Casa dos Barões. Naquele baronato, são tantos os candidatos merecedores da comenda do Barão da Merda que o local mais apropriado para a eleição seria o aterro da Caximba.

E para dar início à campanha eleitoral dos Barões da Merda de 2010, lanço aqui a minha chapa: Abib Miguel (o Bibinho), Edenilson Carlos Ferry (o Tôca) e Nelson Justus (o Bom Cabelo).