Com nota máxima (10), o historiador e jornalista Ulisses Iarochinski agora é mestre em Cultura Internacional, laureado pela Universidade de Cracóvia. A Identidade Cultural do Brasileiro Descendente de Polacos. Polaco ou Polonês é o título da tese. Numa carta aos amigos, o paranaense Iarochinski relata sua emoção.

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Hoje é uma data importante na minha vida. Um dia de conquista. Sou mestre em Cultura Internacional pela Universidade Iaguielônia de Cracóvia, a sexta mais antiga do mundo. Mesma universidade de Nicolau Copérnico, João Paulo II, do Prêmio Nobel de Literatura Wislawa Szymborska e do cineasta Andrzej Wajda. Foi apenas um passo a mais, mas foi muito importante. Fiz a defesa pública da tese nesta tarde polaca de zero grau de temperatura e escura já às 4 horas.

Confesso que passei os últimos dias bastante nervoso, por conta dessa defesa. Três catedráticos do mais alto nível me esperavam, todos com título de professor (é um título concedido pelo presidente da república e não uma função profissional), doutoramento e habilitação (um pós-doutorado de longa duração e sem orientador).

Mas já na primeira pergunta, um deles não ficou satisfeito com a minha resposta. Retruquei dizendo que não concordava com ele e que, no meu ponto de vista, era assim mesmo. Ele, que iria fazer apenas duas perguntas, acabou fazendo pelo menos umas dez, com as interrupções que fazia nas minhas respostas.

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O segundo fez apenas três perguntas que me deram algum trabalho, mas não entrou em discussão comigo. E o terceiro, apesar de fazer apenas uma, fez a mais difícil. Não deixei nada sem resposta. Se houve discussão, foi porque mantive meu ponto de vista, sob pena de perder pontos na avaliação. Afinal, depois de dois anos de intensa pesquisa, de muita leitura, de muito pensar para escrever e defender meu ponto de vista sobre o tema, não me deixaria abater por perguntas.

No fim, mandaram eu sair da sala e fiquei esperando uns 5 a 10 minutos, que pareceram uma eternidade. Finalmente abriram a porta e pediram para que eu voltasse. Fizeram então toda a cerimônia de praxe nestas ocasiões e acabaram me parabenizando, dizendo que eu tinha obtido a nota máxima, que corresponde a 10 no Brasil. E que isso se revestia de um significado bastante importante, porque eu era um estrangeiro escrevendo e falando em idioma polaco. O que não é fácil e nem para qualquer um. (os polacos têm orgulho de possuírem o segundo mais difícil idioma do mundo).

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Dei como presente (também é praxe nesta hora dar flores a cada um dos examinadores) uma garrafa de pinga (cachaça para outras) e uma lata de guaraná Antarctica.

Encerrado tudo, e já tendo me despedido, um dos examinadores me alcançou no corredor e perguntou se antes de vir para a Polônia eu já falava polaco. Respondi que não, que aprendi aqui mesmo em Cracóvia, depois de vir para a Polônia. Então ele me parabenizou mais uma vez e disse torcer por mim na defesa do doutorado em história, que deve acontecer dentro dos próximos meses. Disse para tomar cuidado com a banca, pois podem aparecer perguntas maldosas no sentido de me derrubar e me colocar em maus lençóis, só porque sou estrangeiro. Mas que ele acredita que, com todo cuidado, eu possa me sair bem também, tal como fui hoje.

Depois, saí da faculdade e fui comer uma pizza de espinafre com gorgonzola na melhor pizzaria da cidade, sozinho! Estava almoçando às 5 da tarde, pois antes da defesa não descia nada.

Voltei para casa de estudantes onde moro há cinco anos. Liguei então pelo “skype” para minha mãe em Curitiba. Parabenizei a ela por mais essa vitória. Sim, é uma vitória dela também ter um filho com título de mestre, na Polônia, e dediquei-lhe esse mestrado. Ela se disse orgulhosa, feliz. E as lágrimas que ficaram com vergonha de jorrar, quando fui comunicado do resultado pelos catedráticos, finalmente desabaram.

Beijos a todos. Um brasileiro que não desiste e um polaco que é do contra.

Ulisses Iarochinski