Carta a uma possível rua

Arquiteto Rafael Dely, foi um prazer conhecê-lo. Um prazer que agora se revive, quando percebemos a falta que você faz para esta cidade de Curitiba. Depois que você se foi, foram muitas as manifestações de apreço. A principal delas, venho te contar, é a troca de idéias entre teus amigos para destinar teu nome a algum local público. Um parque, uma galeria, um prédio histórico ou uma possível rua chamada Rafael Dely.

As opiniões divergem. Conversando com Carlos Eduardo Ceneviva, esse teu companheiro de prancheta sugeriu – nada mais, nada menos – que o nome do IPPUC (Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba) fosse trocado para Instituto Rafael Dely de Planejamento Urbano de Curitiba. Ceneviva é muito generoso, até você concordaria que o atual nome do IPPUC carrega muita história para trocar de identidade nessas alturas da fama e conceito. Então, pensamos numa outra possibilidade. O Menino Jesus, com todo o seu bom coração, com certeza não ficaria magoado se a cidade trocasse o nome da Rua Bom Jesus – que passa justamente em frente ao IPPUC – para Rua Rafael Dely. Seria o endereço do planejamento urbano: IPPUC, Rua Rafael Dely, n.º 669, CEP 80035-010, Curitiba, Paraná.

A proposta é polêmica, todos reconhecem. Jaime Lerner concorda com a troca, que mudaria também o nome da rua onde ele mora e trabalha. Quem não concorda é o teu velho amigo Aroldo Murá. E eis aí uma opinião de peso, em todos os sentidos. Presidente do Instituto Ciência e Fé e devoto de Nosso Senhor Bom Jesus, o jornalista Aroldo Murá acha que essa troca vai dar merda. Perdão, Senhor, Aroldo Murá nunca usaria expressão tão grosseira. Foi um ato falho deste irreverente missivista. O que o elegante Aroldo Murá quis dizer é que a Rua Bom Jesus é uma referência religiosa, histórica e afetiva do bairro onde se localiza La Sorbonne do Juvevê.

Rafael, você sabe o que o professor Aroldo Murá me falou ainda há pouco? Disse que, como jornalista, nunca fez qualquer trabalho profissional para você, nada ganhou, nunca, com o íntegro homem público. E olhe que oportunidades não faltaram: na presidência do IPPUC, na Prefeitura, no Governo do Estado, onde você ocupou os mais altos cargos: ?Ganhei – reconhece Murá – conhecendo uma das pessoas mais criativas do Paraná.?

Curitiba, Rafael, não discute tua homenagem. Até porque um projeto de lei nesse sentido já foi apresentado na Câmara Municipal pela vereadora Julieta Reis, e te dou ciência do que segue: Projeto de Lei Ordinária: Denominação de bem público não especificada – Súmula: ?Denomina de Arquiteto Rafael Bernardo Dely um dos logradouros públicos ainda não nominado.? Art. 1.º. É denominado de Arquiteto Rafael Dely um dos logradouros públicos da capital ainda não nominado. Art. 2.º. Esta lei entra em vigor na data da publicação. Julieta Reis, Vereadora.

Portanto, Rafael, nome de rua você já é, pelo menos dentro dos trâmites burocráticos. Só nos falta achar um local público à tua altura. Teus amigos estão pensando, também, em batizar um terminal de transportes com o teu nome: Terminal Cabral-Rafael Dely, por exemplo. Ou então uma galeria externa que está sendo criada para fazer complemento à Galeria Tijucas, bem na Boca Maldita: Galeria Rafael Dely, com ares da Paris onde você casou, estudou e que tanto amou.

No mais, Rafael, saudades. Aqui não me despeço, porque bem lembrou Jaime Lerner na tua partida: ?Esta não é uma despedida, pois a presença e a obra do Rafael Dely estão em todos os cantos por onde passamos, em Curitiba e no Paraná.?