Carreteiro do Jaguara

Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, veio passar uns dias em Curitiba para aplicar no time do Atlético Paranaense a sua eficiente “Terapia do Riso”. O tratamento consiste em duas sessões por dia de piadas para sacanear coxa de branca, dentro do treinamento para encarar o próximo Atletiba com um certo “fair-play”. Afinal, não custa entregar a faixa para os campeões alviverdes com o mínimo de bom humor. Mesmo que não passe de um sorriso amarelo.   

Entre um e outro deslocamento até o CT do Caju, o Jaguara está tirando a barriga da miséria com os sabores da promoção “Curitiba Restaurant Week”. Nas próximas duas semanas, 48 restaurantes oferecem pratos especias pelo valor de R$ 29,90 para o almoço e R$ 39,90 para o jantar. Em que pese o nome americanizado do evento (o Jaguara acha que devia se chamar “Semana da Galinha Morta”), no parecer do Animador de Velórios dos Campos Gerais o camarada sai de qualquer restaurante mais feliz que o Rafael Greca quando entra no Île de France.

Acostumado ao espeto corrido, no começo o Jaguara se atrapalhou com os nomes esquisitos do cardápio. Mas, de tanto confundir alhos com bugalhos, aprendeu que aquele tal de “entrecôte ao poivre vert” não passa de um bife apimentado metido a besta.

Depois de um “bacalhau ao Zé do Pipo” ou um talharim “alla rabiata”, arrematado por “créme brûlée”, o Animador dos Campos Gerais pede a conta, limpa o bigodão com o guardanapo de linho, sobe numa cadeira e declama para os presentes aqueles versos do velho e bom “Arroz a carreteiro”, do gaudério Iberê Machado.     

*******

Prato simples que sustenta, / O arroz de carreteiro / É rude manjar campeiro / Com sabor tradicional. / Esta iguaria bagual, / Dos tempos de antigamente,/ Ganhou fama e, de repente, / É prato tradicional.

Arroz gaúcho, amarelo. / Charque gordinho, cebola / Daquela roxa, crioula / E o verde é salsa picada. / Panela preta areiada, / Água quente na cabona, / Colher de pau, mangerona, / Parece não faltar nada.

Charque picado a capricho / Tem que ser bem escaldado, / Escorrido e colocado / Na panela novamente. / Quando corar, simplesmente / Bote a cebola picada, / Quando esta ficar dourada / Ponha um pouco de água quente.

Baixe o fogo e bote a tampa / Enquanto o charque cozinha. / De vez em quando, uma aguinha / Pra que não fique queimado. / Aí, o arroz é lavado // E a mangerona tem vez. / Mais uma aguinha, talvez, / Garantindo o cozinhado.

Estando o charque macio, / Bote o arroz pra que se aquente. / Revive continuamente / Com calma e muita paciência. / Baixe o fogo, por prudência. / Bote água da cambona, / Prove o sal e a manjerona / Que são, do gosto, a essência.

Quando o arroz ficar cozido / E ainda estiver molhado, / Tire a panela de lado, / Ponha a salsa e deixe estar. / Chame a turma pra almoçar / E sirva até o bem do fundo / Pra contentar todo mundo / Com delicioso manjar