Para os cidadãos da Roma antiga, uma pequena viagem à orla do mediterrâneo era um desafio ao destino. E aos caprichos dos deuses. Antes de mandar fazer uma boa revisão nos cavalos e calibrar as rodas das bigas, os romanos consultavam os deuses para depois curtir sossegados a festa pagã. Se acaso surgir um mau presságio, não brinque com o destino.

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A distância entre Roma e a Baía de Napoli é de 189 quilômetros em linha reta. Entre Curitiba e a Baía de Paranaguá são apenas 78 quilômetros. Mas o destino é o mesmo, considerando-se que Paranaguá é para Curitiba o que Napoli era para Roma. O Atlântico seria o Mediterrâneo, a Serra do Mar, as colinas da Via Ápia.

Para as festas pagãs – assim como em Curitiba -, o calor mediterrâneo esvaziava a capital imperial e os adoradores de Netuno partiam “al mare”. O centro de Roma restava sob o império das moscas do Monte Capitolino e a plebe ficava a ver navios.

Os romanos passavam a vida aprisionados numa teia de superstições, à mercê dos deuses caprichosos. O calendário Juliano era um aterrador campo minado de dias azarados. Assim, no livro “Férias pagãs”, de Tony Perrottet, temos algumas recomendações básicas que até o imperador Nero, com a cara do Rei Momo, levava ao pé da letra:

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“Sonhaste com corujas, ursos ou touros? Cancele todos os planos de viagem, o desastre é certo! Nunca espirre quando entrar numa embarcação a vela. Nada de dançar enquanto estiver navegando! E definitivamente, definitivamente não corte as unhas quando estiver em mar aberto. A menos que esteja enfrentando mau tempo. Nesse caso, por favor, apare tanto o cabelo como as unhas; coloque as aparas num saquinho, e atire-as ao mar como oferendas a Netuno”.

Como resultado de tantas armadilhas no calendário Juliano, os antigos romanos viviam em agonia na ida e na volta da praia. É bem verdade que naquela época viajar era bem mais seguro que hoje e, graças aos deuses, não havia pedágio. Essa praga só chegou a Roma muito depois, com as invasões bárbaras.

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O imperador Augusto abandonou uma viagem ao Egito quando, acidentalmente, tropeçou e rasgou sua toga. Era um exagero, mas Augusto era um exagerado: passava um dia por ano mendigando pelas ruas de Roma porque havia sido instruído a fazê-lo em um sonho.

Nas cerimônias aos orixás dos romanos, em que faziam despachos de magia negra nas sete colinas de Roma, as entranhas de animais sacrificados precisavam ser examinadas regularmente, sonhos interpretados, o mundo natural constantemente observado em busca de presságios. Notícias de peixes sendo encontrados em campos arados; abelhas se aglomerando no telhado de um templo; até o saleiro fora do lugar era motivo para cancelar uns dias de férias no litoral.

Ó tempora! Ó mores! – exclamaria o filósofo Cícero, fosse nosso contemporâneo, ao testemunhar o governador Beto Richa derrubar o saleiro, pisar no tomate, quebrar o espelho, passar embaixo da escada, dar milho para bicicleta, chutar um cachorro morto, mandar os subordinados entrarem num camburão com o pé esquerdo e, mesmo assim, não desistir de passar o Carnaval alhures! Ó tempos! Ó costumes!