Parceiro do demitido ministro dos Transportes, Valdemar Costa Neto não tem currículo. Tem folha corrida. Seis vezes deputado federal (PR), em 2005 o Mensalão o apeou de uma cadeira na Câmara, escapou da cassação, mas dois anos mais tarde o Supremo Tribunal Federal abriu processo contra ele por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Enquanto o processo se arrasta pelos corredores do STF, Costa Neto até ontem aguardava o resultado sentado na antessala da Presidência da República, com linha direta para o Ministério dos Transportes. E não é por gentileza da Dilma que ele era tratado a pão-de-ló por Gleisi e Ideli, as mulheres do cafezinho.

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A influência de Valdemar Costa Neto nos governos petistas vem desde 2002, quando ainda era o líder do Partido Liberal (PL), partido que formou a chapa com Lula na eleição daquele ano, depois de uma tenebrosa transação que resultou em R$ 10 milhões pagos com dinheiro do caixa dois, nos conta o jornalista Merval Pereira: “Ficou célebre a descrição da cena que permitiu anunciar, na undécima hora, a escolha de José Alencar para vice de Lula. Os dois ficaram conversando na sala de um apartamento enquanto no quarto Valdemar Costa Neto e José Dirceu acertavam os últimos ‘detalhes’ do acordo”.

“Carimbo” era o apelido de um especialista em falcatruas (hoje seria chamado de lobista) que no Paraná frequentou as sombras do poder desde os tempos do Maneco Facão. Quando mudava o governo, o camaleão só mudava o paletó para abraçar os novos inquilinos do Palácio Iguaçu. E assim, mal sabendo escrever o próprio nome, o ladino deixou até para os bisnetos uma fortuna inexplicável.

Tão inexplicável quanto o apelido: “Carimbo”.

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“Não sai uma obra da Secretaria dos Transportes sem o carimbo dele!”, confidenciavam alguns. Outros cochichavam que ele tinha um cartório na Secretaria da Fazenda: “Se ele não botar o carimbo, ninguém recebe”. “O Diário Oficial não sai sem o carimbo do homem!”, suspeitavam.    

O senhor Carimbo era de fato inexplicavelmente poderoso. Sempre cheirando a perfume Lancaster, de longe era um asqueroso. “Asqueroso e pegajoso, mas com muito dinheiro vivo no bolso”, dizia-se na Casa da Albertina, um rendez-vous que ficava na Westphalen, a meia quadra da praça Rui Barbosa, muito frequentada por jornalistas. E foi graças às raparigas da Albertina que a origem do apelido veio à luz do dia: Desconhecia papel higiênico. Quando sentava na cama, deixava sua marca registrada.

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Tem deputado que é da mesma laia: onde divide os lençóis, deixa o carimbo.