Cardeais da imprensa

Muito se usa a expressão “cardeais da imprensa”, para se referir aos nomes de jornalistas da mais alta hierarquia. Para se atualizar essa nominata de bem-aventurados, agora seria preciso providenciar um barrete cardinalício para o jornalista Gerson Camarottti. Depois da entrevista exclusiva com o papa Francisco, ele merece bem mais que o barrete da imprensa. Talvez sua unção ao colégio dos cardeais, visto que Camarotti chegou a prever a eleição do argentino para o trono de São Pedro. Com uma carreira brilhante, o pernambucano Gerson Camarotti não se aproximou das mais altas fontes do clero por acaso: é autor do estudo “Estratégia política da Santa Sé para reaproximação da Igreja na América Latina”, para conclusão do curso de pós-graduação em Ciência Política.

Se depender do escritor Deonísio da Silva, Camarotti não só vai entrar para o rol dos “cardeais da imprensa” como também merece o Prêmio Esso de Jornalismo de 2013. Por sua vez, Deonísio da Silva, ao nos explicar porque “o papa fala bem e não cansa ninguém”, merece a bênção especial de Francisco: “Os padres letrados José de Anchieta e Manoel da Nóbrega eram jesuítas e aprenderam o Tupi-guarani para falar com os índios. O Papa Francisco, que também é jesuíta, aprendeu Português para falar com os brasileiros. Entre tantas lições, o Papa mostrou que não é preciso baixar o nível para se aproximar do povo. Basta escolher as palavras adequadas ao contexto”.

Além do “cardeal” Camarotti, outro nome que merece ser destacado nessa visita do papa Francisco é o do padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, nomeado pelo Papa Bento XVI em julho de 2006.  Chamado de “Camerlengo da mídia”, o jesuíta Lombardi oxigenou a sala da imprensa com seu bom humor. Passou um pano na fuligem do vidro que separava o papa dos jornalistas e deixou transparente o que se passava intramuros do Vaticano.

Para Marco Ansaldo, do jornal italiano La Repubblica, com o novo papa Federico Lombardi reencontrou o sorriso: “O annus horribilis do Vatileaks, o caso das cartas roubadas do apartamento do papa e que chegaram à mídia, parece ter ficado para trás. E, com a chegada do novo pontífice, o porta-voz do papa emérito voltou a ter, nas cada vez mais lotadas coletivas de imprensa, com 5 mil enviados de todo o mundo, o impulso irônico e a argúcia sutil que caracterizam a sua formação de jesuíta”.

Amável e cortês, padre Federico já chegou a se apresentar na Sala de Imprensa com buquês de rosas para as jornalistas. Para quem presta atenção no porta-voz, não causa surpresa o novo estado de espírito da igreja. Pelo menos para o escritor Deonísio da Silva, o bom humor de Francisco também já era esperado, pois no mês passado, comentando as semelhanças entre o Português e o Espanhol, disse de brincadeira: “O Português é um Espanhol mal falado”.

Com a bênção de Francisco, Gerson Camarotti vai ganhar o prêmio Esso de Jornalismo de 2013. E vai receber o barrete de cardeal das mãos do padre Federico Lombardi.