Campo de todas as torcidas

Como se não bastasse a ameaça da guilhotina afiada da segunda divisão para o glorioso Coritiba, a sina de morrer na praia do Clube Atlético Paranaense e a passagem só de ida do Paraná Clube para o quinto dos infernos, outra notícia para deixar o futebol paranaense morrendo de vergonha apareceu na pesquisa do Ibope sobre as torcidas no Brasil: o Paraná é o estado com maior proporção de pessoas que dizem não torcer para clube algum. São 30,8%, acima da média nacional de 23,4%.

O resultado da pesquisa no Paraná aponta uma situação inédita no Estado. Pela primeira vez aumentou o número de não torcedores. O índice era de 26,5% em 1998; 21,4% em 2004 e 18,8% em 2010. Nacionalmente, o índice aumenta nas classes D/E (34%) e diminui na classe A/B (16,7%), alvo principal dos novos estádios construídos para a Copa do Mundo.

A massa de não torcedores no Estado apresentada pelo Ibope, porém, é menor se comparada a dois levantamentos feitos pela Paraná Pesquisas para a “Gazeta do Povo”. Em 2008, 35,2% dos paranaenses não torciam para ninguém. Em 2012, eram 32,4%.

Com 30,8% de não torcedores, somando com os 50% de fanáticos por times de outras capitais, o Paraná confirma a sua velha tradição de ser um estado desprovido de uma identidade única. O oposto do Rio Grande do Sul, onde a bombacha tem tamanho único e o chimarrão é o combustível do motor flex da cultura gaúcha.

São diversos os mapas do Paraná. Norte, sul, leste, oeste, cada cidade enxerga o Paraná conforme lhe parece. Regiões que torcem para as cores que trouxeram do berço, embaladas pelas ondas do rádio. 

Podemos pegar como exemplo Foz do Iguaçu. Com o sol das três fronteiras alargando o horizonte, Foz é independente por natureza. Do ponto de vista das Cataratas, Curitiba nem mesmo é capital. Para alguns iguaçuenses, não passa de nascente do rio Iguaçu. Outros, mais benevolentes, admitem Curitiba como a Cidade Industrial da Foz. Para eles, Paranaguá é o entreposto de importação da Região Metropolitana de Foz do Iguaçu, que compreende Puerto Iguazu, Ciudad de Leste e mais algumas povoações da Argentina e do Paraguai. Como se não bastasse tanta autossuficiência (é covardia citar as turbinas e o recorde histórico de 94.684.781 megawatts-hora, em 2008), a República Independente de Foz do Iguaçu possui dois dos melhores times de futebol do mundo: Grêmio e Internacional.

O mesmo acontece no Norte do Paraná, onde 99,9% de seus habitantes torcem para outros dos três maiores clubes do planeta: Corinthians, Palmeiras e São Paulo. Existem alguns torcedores do Santos, mas estes são os velhos saudosistas adictos ao Pelé e não ao clube.

Com tantos torcedores alienígenas no Paraná, aqui na capital nunca pergunte para um desconhecido como está o “verdão” no campeonato. Ele vai responder:

– Mal. O Palmeiras tá caindo pelas tabelas!

E se perguntar se o Atlético está ganhando ou está perdendo, o desconhecido vai responder de bate pronto:

– Que Atlético, tchê? O Atlético de Carazinho?