Caminhos de Guajuvira

Guajuvira é uma pitoresca colônia de imigrantes do município de Araucária, situado a 27 km de Curitiba, às margens do Rio Iguaçu e da antiga estrada de ferro. Aos domingos, o trem de passageiros parava na pequena estação local e dos seus vagões desciam dezenas de famílias munidas de mochilas e caniços que iam pescar nas barrancas do Iguaçu, então limpo e piscoso.

Nos tempos dos carroções e das barricas de erva-mate, Guajuvira não tinha luz elétrica. Para fazer o rádio funcionar era preciso comprar uma bateria e acoplar um cabo ao aparelho. Quando a bateria descarregava, a solução era levá-la a uma oficina mecânica para fazer a recarga – que podia ser do tipo carga completa ou meia carga.

Wenceslaw era um pioneiro produtor de pêssegos de Guajuvira. Sua mulher, Wanda, economizou um bom dinheiro fazendo compotas de frutas e comprou um ?rádio bunito, bunito mésmo, de marca Pilco!?.

Quando a bateria arriou, Wenceslaw procurou a oficina, onde o mecânico perguntou que tipo de carga ele queria.

O polaco Wenceslaw pensou um pouco e respondeu:

– Sénhor, bota um póco de música, ótro póco de notícia e o resto missa!

***

Numa tarde de domingo, um forasteiro bateu no sítio do Wenceslaw.

– Desculpa incomodar, o senhor podia me dar uma informação? Eu estou interessado em comprar um sítio aqui na região e gostaria de saber se estas terras dão arroz?

– Aqui não dando arroz, não senhor!

– E feijão, dá?

– Também não dando!

– Dá frutas e verduras?

– Não dando de jeito nenhum!

– Soja, café, amendoim, não dá nada?

– Não dando nada de coisa nenhuma!

– Quer dizer que não adianta plantar que não dá nada mesmo?

– Ah, bom… plantando sendo outra coisa!

O forasteiro ofereceu um bom dinheiro pelo sítio de Wenceslaw. Cansados de plantar pêssegos, e só colher pepinos, dona Wanda e os filhos insistiram para o marido fechar o negócio e levar a família para a cidade grande.

No dia seguinte o casal foi ao cartório assinar a transferência da propriedade, para felicidade dos filhos: enfim, eles poderiam estudar em Curitiba. Wenceslaw foi na frente, a mulher e os filhos ficaram com o cunhado Gotfryd, enquanto o pai não ajeitasse um novo trabalho e uma boa casinha num bairro da capital.

Naquele tempo, o bairro do Abranches era com se fosse Guajuvira, tantos os polacos naquela aprazível região. Depois de escolher uma modesta casinha de madeira, com os lambrequins amarelos ressaltando o azul claro de uma recente pintura, Wenceslaw foi preencher o documento de aluguel com o proprietário, um rico libanês que só lidava com aluguel de imóveis.

– Senhor Wenceslaw, como é mesmo o seu sobrenome? – perguntou o velho Haddad.

– Chikenplutgyoscher-tsciechamayowinski.

– E como se escreve?

– Com tracinho no meio!

Uma semana depois, Wenceslaw tratou de escrever uma carta para a família, contando das novidades da cidade grande.

Querida Wanda: podem vir todos. Ieu já alugando uma bonita casa no Abranches. Tem quintal para plantar repolho. Vizinho de cerca sendo da família Wojciechowski, tem parente em Guajuvira.

Curitiba cidade mesmo grande, com muito automóvel, muito mesmo. Praça Tiradentes tem bastante loja, tem farmácia do alemão Stellfeld e na catedral fui rezar para achar negócio próprio.

Ieu primeiro pensando abrir uma barbearia. Então pensando bem, desisti. Curitiba tendo muito automóvel e muito barbeiro. Com tanto barbeiro assim, e tanto automóvel assim, ieu achando mais negócio abrir uma latoaria. Aqui latoeiro deve ganhar muito dinheiro.

Esperando com saudades, Wenceslaw.