Quando o inverno começa a dar o ar de sua graça, no fim de semana todos os caminhos nos levam a Guajuvira. Bem agasalhados e com o recém-lançado livro de Eduardo Sganzerla embaixo do braço: “Curitiba rural – aromas e sabores”, um bem ilustrado relato dos sítios e chácaras da Região Metropolitana de Curitiba onde vive uma irredutível brava gente que há várias gerações nos fornece frutas, legumes e verduras, sem nunca deixar de preservar suas tradições.
Guajuvira é um desses redutos de aromas e sabores retratados pelo escritor Eduardo Sganzerla. No município de Araucária, a 27 km de Curitiba, às margens do Rio Iguaçu e da antiga estrada de ferro, os fins de semana de Guajuvira eram dos mais animados quando o trem de passageiros parava na pequena estação e dos seus vagões desciam dezenas de famílias, munidas de mochilas e caniços, que iam pescar nas barrancas do Iguaçu, então limpo e piscoso.
Nos tempos dos carroções e das barricas de erva-mate, Guajuvira não tinha luz elétrica. Para fazer o rádio funcionar era preciso comprar uma bateria e acoplar um cabo ao aparelho. Quando a bateria descarregava, a solução era levá-la a uma oficina mecânica para fazer a recarga – que podia ser do tipo carga completa ou meia carga.
Wenceslaw era um pioneiro produtor de pêssegos de Guajuvira. Sua mulher, Wanda, economizou um bom dinheiro fazendo compotas de frutas e comprou um “rádio bunito, bunito mésmo, de marca Pilco!”.
Quando a bateria arriava, Wenceslaw procurava a oficina, onde o mecânico invariavelmente perguntava que tipo de carga ele queria.
O polaco Wenceslaw pensava um pouco e respondia sempre do mesmo jeito:
– Sénhor, bota um póco de música, ótro póco de notícia e o resto missa!
Numa tarde de domingo, um forasteiro de Curitiba bateu no sítio do Wenceslaw.
– Desculpa incomodar, o senhor podia me dar uma informação? Eu estou interessado em comprar um sítio aqui na região e gostaria de saber se estas terras dão milho?
– Aqui não dando milho, não senhor!
– E feijão, dá?
– Também não dando!
– Dá frutas e verduras?
– Não dando de jeito nenhum!
– Soja, café, amendoim, não dá nada?
– Não dando nada de coisa nenhuma!
– Quer dizer que não adianta plantar que não dá nada mesmo?
– Ah, bom… plantando sendo outra coisa!