Caldo de cultura do Bar Paraná

Não foi só aquele jeitinho caipira e aquele jeitão de ricaço que Curitiba perdeu. Perdemos também certos paladares que nos faziam cosmopolitas, bem antes da nossa mutante moeda olhar o dólar com discreto desdém. Foi o caso dos pioneiros restaurantes de almoço, quando comer fora de casa nos obrigava a confessar o pecado no dia seguinte.

São poucos os cardápios onde ainda nos servem o jurássico “bife à rolê”, por exemplo. Um deles é o Manekos, ao lado da Praça Osório e no início da Cabral, numa prova de que a cozinha à moda do extinto Bar Paraná ainda tem o seu lugar no coração da cidade.

O Bar Paraná foi considerado o grande restaurante das décadas de 50 e 60. Ficava na Rua XV de Novembro, 273, nos localiza a historiadora Maria do Carmo Brandão Rolim: “Apesar de ser chamado de bar, o forte da casa não eram os aperitivos, mas sim, o restaurante. O primeiro proprietário do Bar Paraná foi o alemão Walter, conhecido pelas iguarias que preparava e pelo bom gosto, em termos de louçaria, mobiliário e decoração da casa. Comenta-se que, quando o senhor Walter decidiu visitar a sua cidade natal na Alemanha, não passou bem e faleceu. A partir de então, o restaurante foi dirigido pelo casal Singer, depois por Carolina Singer e a seguir por Evilásio e Ilona Garcia. Carolina Singer, de origem austríaca, foi quem implantou no restaurante a famosa sopa húngara: caldo de carne com páprica, quadradinhos de carne, batata e temperos”.

Com um chope preto de características incomparáveis, a sopa húngara do Bar Paraná era definitiva: “A receita ficou com a última proprietária e ela não passou para mais para ninguém. A sopa húngara era formidável, era um prato encorpado, servido acompanhado de broa preta. Não era muito caro e sempre da melhor qualidade”, testemunhou o jornalista Nireu Teixeira. “O Bar Paraná tinha a sopa húngara que era um xodó de Curitiba”, ainda sustenta o cronista Luís Alfredo Malucelli.

E agora? Alguém tem a coragem de discutir com Nireu e com o Malú?