Cacacas e titicas

Treze (13) meses depois de meses de sua posse, estourou o primeiro grande escândalo do governo Lula. Custou a reputação e a possível carreira presidencial do então todo-poderoso José Dirceu. No governo Dilma Rousseff,  o primeiro escândalo foi  mais ligeirinho. Cinco meses depois da posse custou o cargo de Antonio Palocci e novamente somos levados a aconselhar o governo petista a criar aquele cargo sugerido por Chico Buarque: o “Ministério do Vai Dar Merda”, pasta de um homem só, com a importante incumbência de ser acionado para avaliar todas as decisões de governo antes se serem adotadas.

O novo ministério funcionaria assim: a cada nova decisão importante, o ministro do Vai Dar M.. seria chamado para dar o parecer final:

– Vai Dar M…?

O novo ministro teria analisado o caso e, pesadas todas as possíveis consequências, chamaria a presidente num canto e daria a “palavra” final:

– Vai Dar M…!

“On bullshit” é a expressão inglesa para desqualificar qualquer declaração que cheire mal. E é também o título de um livro do filósofo Harry G. Frankfurt. A obra não é um tratado sobre os dejetos orgânicos. É sobre palavra M…. E o que é falar o que cheira mal? No primeiro parágrafo o autor não deixa a menor dúvida:

“Um dos traços mais notáveis de nossa cultura é que se fala muita M… Todos sabem disso. Cada um de nós contribui com sua parte. Mas tendemos a não perceber essa situação. A maioria das pessoas confia muito em sua capacidade de reconhecer quando se está falando M… e de evitar se envolver. Assim, o fenômeno nunca despertou preocupações especiais nem induziu uma investigação sistemática”.

Falação, impostura, conversa fiada, lorota, charlatanice, em suma é tudo a mesma cacaca. Mas não confunda M… com mentira. O falador de M…, alerta o autor, quer apenas impressionar, passar uma impressão diferente sobre si mesmo. Ele não está, necessariamente, sendo falso ou mentiroso. O falador de M… não está nem aí para a verdade e os fatos. O mentiroso esconde fatos que conhece. Inventa deliberadamente sua história, mas respeita a verdade, mesmo fugindo dela. E aí é que está a grande cacaca: justamente por conta do desrespeito pela verdade é que o especialista em bosta é mais perigoso que aquele que mente.

Quando criança, jogávamos futebol nos pastos das vacas. Como não tínhamos traves, substituíamos pelas bostas do gado: uma aqui, outra cá, aquela lá, mais uma acolá e a pelada estava formada. Bons tempos aqueles. E vamos parar por aqui, porque senão o cronista desanda a falar sobre o Atlético Paranaense, a seleção brasileira e outras titicas semelhantes.

“On bullshit”, dirá o paciente leitor.