Para abrir os trabalhos etílicos do Natal, os especialistas aconselham coquetéis variados, seguidos dos vinhos harmonizados com a tradicional ceia natalina. Destilados mais agressivos, como os escoceses, jamais. Nunca se deve tomar uísque durante o dia, a não ser em caso de eclipse solar.

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Por seu turno, o grande Nireu Teixeira nos aconselhava a nunca beber uísque durante o dia, porque assim o seguidor do puro malte precisaria carregar o uísque até o fim da tarde. Uísque, dizia o mestre, é para ser tomado ao anoitecer, porque depois disso ele é que nos carrega noite adentro.

Acaba de chegar às livrarias um manual para o “bem beber” das festas de final de ano: Guia de drinques dos grandes escritores americanos, de Mark Bailey e Edward Hemingway. Este último, por supuesto, sabe de quem está falando, com o mérito de ser o ilustrador do guia.

Assim, obedecendo à hierarquia, é com Ernest Hemingway que podemos fazer o primeiro brinde de Natal, abrindo os trabalhos com um “mojito”, com a receita tradicional que dispensa aqui mais detalhes. O que não se dispensa é a controversa filosofia de vida do escritor: “Um homem não existe até que fique bêbado”.

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“Um poeta sem álcool não é um verdadeiro poeta”, gabava-se Conrad Aiken, que recomendava o “Negroni”, supostamente nome em homenagem a um conde italiano. Por sua notável cor vermelho-alaranjada, acentuada pelo Campari, é um drinque com a atmosfera do Natal. Leva ainda vermute doce, gim e laranja.

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A frase é de Robert Benchley, crítico musical, humorista, colunista de jornal e ator: “Beber torna as pessoas tão tolas, e as pessoas já são tão tolas para começar, que é contribuir para um crime”. Benchley não bebia, até provar o primeiro coquetel de sua vida, o “Orange Blosson”. O escritor F. Scott Fitzgerald, que na época milagrosamente estava totalmente abstêmio, tentou demover Benchley de beber “Orange Blosson”:

– Você não sabe que beber é uma morte lenta?

– Ao que Benchley respondeu, dando o primeiro gole:

– Mas quem está com pressa?

Cuidado, portanto, com “Orange Blosson”: 60ml de gim; 45ml de suco de laranja fresco; 8ml de xarope simples; rodela de laranja. Despeje todos os ingredientes em uma coqueteleira cheia de cubos de gelo. Bata bem. Coe em um copo de coquetel gelado. Decore com a rodela de laranja.

Quanto ao xarope simples, é o seguinte: 1 xícara de açúcar granulado, 1 xícara de água (razão de 1 para 1). Misture 1 xícara de açúcar granulado e 1 xícara de água numa panela sobre fogo médio. Deixe que atinja um ponto de fervura baixo e depois cozinhe até que o açúcar se dissolva completamente. Retire a panela do fogo e deixe esfriar. Para armazenar, pois ele vai em muitos coquetéis, guarde o xarope esfriado numa garrafa ou jarra de vidro bem fechada e refrigere. Guarde por no máximo uma semana.

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Truman Capote lhe ofereceria um “Screwdriver” no Natal, seguido de uma frase dita com sua inconfundível voz fanhosa: “Esta profissão é uma longa caminhada entre um drinque e outro”; e lhe daria a receita do que chama de “meu drinque laranja”: 60ml de vodka; 200ml de suco de laranja fresco, meia rodela de laranja.

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O romancista, contista e roteirista Raymond Chandler achava que “um homem deveria ficar bêbado pelo menos duas vezes por ano, apenas por princípio”. Foi só depois que Philip Marlowe, o detetive de Chandler, apresentou o “Gimlet” no romance O longo adeus que o coquetel se difundiu nos Estados Unidos: “Um verdadeiro Gimlet é meio copo de gim e meio copo de Rose”s Lime Juice (suco de limão siciliano) e mais nada. Dá de dez a zero no Martini”.

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Porque bebes tanto assim, rapaz? Poderíamos perguntar ao romancista e escritor F. Scott Fitzgerald que, como sempre, estaria com “Gin Rickey” na mão (gin, limão Taiti e club soda).

Ele responderia, brindando Papai Noel:

– Primeiro você toma um drinque, então o drinque toma um drinque e depois o drinque toma você!