Na biografia da “Viúva Clicquot”, a história da mulher que construiu um império de champanhe, a escritora Tilar Mazzeo relembra que o estouro da rolha e o brilho da espuma borbulhante significam comemoração e glamour. É o vinho do amor e dos beijos de Ano-Novo. É lindo e delicado, é um vinho associado a mulheres.

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O poeta Lord Byron, aquele chauvinista, declarava que a única coisa que as mulheres podiam ser vistas comendo era salada de lagosta e bebendo, champanhe. Nas primeiras décadas do século XVIII, pouco depois da descoberta do champanhe, a poderosa e voluptuosa Madame de Pompadour não deixa Lord Byron assim tão mal: “O champanhe é o único vinho que deixa a mulher mais bonita depois de beber”. E diz a lenda que as taças de champanhe foram modeladas nos admirados seios daquela amante do rei da França.

Mulher, champanhe e o futuro que vai nascer, tudo a ver. A elas as “flütes”, a eles os copos. Se a um alegre monge cego do século XVII com o nome de dom Pierre Pérignon se deve a descoberta do segredo das bolhas do champanhe na adega da abadia, o primeiro vendedor de sonhos borbulhantes foi Charles-Henri Heidsiek , que viajou a cavalo mais de três mil quilômetros até a Rússia, como marqueteiro do champanhe. Mais tarde, seu filho Charles Camille foi imortalizado num canção popular como “Champagne Charlie”. A expressão se tornou gíria com o significado de “homem devasso ou notório bebedor de vinho espumante”.

Abraham Lincoln pregava que aprendeu com a experiência que as pessoas que não têm vícios têm muito poucas virtudes. E dessas virtudes, acrescentaria a “Viúva Clicquot”, o champanhe é o melhor dos vícios.

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No “Guia de drinques dos grandes escritores americanos”, encontramos muitos virtuosos viciados no champanhe. Homens e ou mulheres, são eles os “Champagne Charlie”, devassos e notórios bebedores do vinho frisante.

Começamos pelos homens, os chegados aos copos.

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“De que adianta ganhar o prêmio Nobel se isso não nos permite nem entrar nos bares clandestinos?” Romancista e dramaturgo, Sinclair Lewis foi o primeiro americano a receber o prêmio Nobel e não foi o último dos escritores devotados ao “Bellini”, coquetel inventado no Harry’s Bar, em Veneza. A cor quente lembrava os quadros do pintor italiano do século XV Giovanni Bellini: 60ml de polpa de pêssego; e champanhe. Coloque a polpa de pêssego em uma “flüte” previamente gelada. Complete com champanhe. Mexa delicadamente. Às vezes se acrescenta um fio de suco de limão.

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Às mulheres, uma “flüte” linda e delicada, com beijos de feliz Ano-Novo.

Poeta, contista e dramaturga, Dorothy Parker foi a única mulher entre os membros fundadores da lendária “Algonquin Round Table”, em Nova York. De início não gostava do sabor do álcool. Ao cair na tentação, começou com gim, que a enjoava, passou pelos escoceses, que não faziam bem o seu tipo, para finalmente descobrir a paixão de sua vida, o coquetel de champanhe: 1 cubo de açúcar; 2 gotas de angostura, champanhe e “twist” (tira da casquinha) de limão siciliano. Coloque o cubo de açúcar em uma “flüte” e molhe com angostura. Encha o copo com champanhe. Decore com o “twist” de limão. Às vezes se acrescenta uma dose (30ml) de conhaque.

Embora casada várias vezes, Dorothy era cronicamente solitária. Seu único romance duradouro parece ter sido o champanhe. Quando dividia um minúsculo escritório com Robert Benchley, parceiro do Algonquin, ela brincava: “Um centímetros a menos e seria adultério”. Infiel, às vezes traía o espumante com o Martini: “Gosto de um Martini / dois, no máximo / com três estou embaixo da mesa / com quatro embaixo do anfitrião.

Ao ser apresentada ao champanhe, Dorothy Parker compôs um poema para o seu novo amor:

“Três são as coisas que nunca terei: inveja, contentamento e champanhe suficiente”.