Primeiro de setembro é o dia mundial da ostra. No calendário da degustação, setembro é o mês (com R) que inaugura a temporada que vai até abril. Nos meses de maio, junho, julho e agosto (sem R), diz a sabedoria popular do hemisfério norte que a colheita e o consumo de ostras não têm a bênção de Netuno, nem mesmo de Iemanjá. O ditame, ainda observado por muitos apóstolos da ostra crua com champanhe, ficaria conhecido na América como o “Pânico da ostra”.

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No século XIX, periodicamente o cólera atacava cidades no mundo. A morte ocorria em poucos dias e os índices de óbito chegavam a 90% das vítimas. Aterrorizada, a população pobre não sabia como fugir da força assassina. Mas quando a peste começou a atacar os cidadãos respeitáveis, só então a classe dominante começou a enxergar o óbvio: a miséria urbana. Já que não podiam culpar a sujeira dos cortiços e a degradação das águas, talvez a causa fossem as ostras. E assim começou o “Pânico da ostra”.

De Nova York saía a metade das ostras consumidas no mundo. Até o início de 1900, as abundantes ostras tinham um papel importantíssimo na alimentação básico dos ricos e pobres. Uma ostra, um generoso bife. Além de custar pouco, as ostras desempenhavam papel fundamental contra a poluição dos congestionados canais da ilha de Manhattan, pois o molusco faz o milagre da limpeza natural das águas.

Em 1839, para combater a “Gripe da ostra”, o prefeito de Nova York aplicou com rigor a lei sobre os meses sem a letra R. Assim, proibia-se a venda de ostras nos meses que iam de maio a setembro. Só que os habitantes tinham humor dos mais apurados: começaram a chamar agosto de “argosto”. Em um artigo, o New York Times ironicamente lamentou que só os infaustos italianos não poderiam comer ostras em janeiro porque na língua de Dante esse mês não tem R, é “Gennaio”.

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Apesar da infelicidade dos romanos, os nova-iorquinos consideravam Júlio César um refinado gastrônomo. Além de criar o ano bissexto apenas para acrescentar mais um dia com ostras, reformou o calendário romano. Ele descobriu que o almanaque chamava de verão o que ocorria no final de outono, então, nos meses em que as ostras seriam igualmente desejadas, não havia R. Por isso, colocou os meses com R no auge do verão e possibilitou aos romanos degustarem ostras logo no primeiro de setembro. 

Neste “gennaio”, com R ou sem R, um brinde a Júlio Cesar: com champanhe e muitas ostras!

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