Boteco na ponta da língua

Não chega a ser a torcida do Corínthians, mas os gringos que já estão chegando a Curitiba para a Copa do Mundo são o suficiente para pensar num relançamento do meu Dicionário Internacional de Boteco – o Botecário.

São 20 idiomas reunidos num livreto de 132 páginas – um Berlitz do bem beber, segundo o cronista Sérgio da Costa Ramos -, com expressões idiomáticas da cultura de balcão que ensinam ao turista a palavra certa para pedir uma “uma cerveja bem gelada”, “um chope com colarinho”, “mais gelo” e “o que tem para comer”, aí incluída a garçonete, pois é importante a segurança do visitante: “A garçonete é casada?”.

Beber pode ser uma loucura, mas tem seu método. Com léxico, plexo e nexo. Ademais, um fato é comprovado por linguistas de botequim: estando em terras estrangeiras, quanto mais você bebe, mais você entende a língua local. Depois da segunda garrafa de Bordeaux qualquer desinibido é capaz de recitar Baudelaire! Com “due botiglie di vino rosso”, qualquer um está apto a declinar os primeiros 34 cantos do Inferno da Divina Comédia de Dante Alighieri. Não obstante, como sinal de paz, é aconselhável começar com os 33 cantos do Paraíso. Ficam mais à altura de um bar.

Recheado com cartuns e estórias, só faltou no Botecário este causo verídico agora lembrado pelo fotógrafo Maringas Maciel:

Com essa história da cidade receber muitos gringos para a Copa, lembrei de um fato ocorrido em 1998. Eu estava no Olímpia, em São Paulo, fazendo produção em shows do Júlio Iglesias. Naquela noite, o show tinha recém-começado e eu estava no camarim da técnica, quando chega, correndo e bufando, o canadense que era o iluminador do espetáculo. Pela maneira rápida e esbaforida que ele chegou, achei que algo tinha acontecido; e para que o meu inglês ginasial não atrapalhasse mais que ajudasse, pedi a ele: 

– Speak slow and easy, please!

O gringo parou na minha frente, respirou fundo e falou: 

– Cer-ve-ja!