Não é de hoje que em cada esquina se abre uma nova igreja onde o tempo é dinheiro e, o melhor de tudo, com isenção de impostos. Conta um velho manuscrito que até o Demônio já abriu sua própria igreja, conforme relatos do escritor Machado de Assis. Cansado de viver das migalhas divinas o Diabo chegou à conclusão que o meio mais eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de vez, seria usar escritura contra escritura, breviário contra breviário, com suas próprias missas, com pão e vinho à farta.

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Assim decidido, o Satanás bateu asas com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo. Ao cair na terra, imediatamente tratou espalhar uma doutrina nova e extraordinária, com uma voz que reboou nas entranhas do século. Ele prometia aos seus discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava que era o Diabo, mas confessava para retificar a noção que os homens tinham dele e desmentir as histórias que a seu respeito contam as velhas beatas.

Com sua boa nova aos homens de má vontade, o Diabo reuniu com seu espírito de negação muitos discípulos dispostos a reabilitar a soberba, a luxúria e a preguiça. A avareza foi declarada como a mãe da economia, a ira a melhor defesa e a gula o caminho para a imortalidade. Quanto à inveja, o Diabo tornou-a virtude principal, que chegava a suprir todas as outras e o próprio talento. Com tais doutrinas, a igreja do Coisa Ruim é um sucesso até hoje. Turbas correm atrás de Belzebu e diariamente criaturas acima de qualquer suspeita se revelam discípulos do Tinhoso.

Quando Deus permitiu que o Demônio fundasse sua própria igreja, fazendo da opinião uma mercadoria de troca e a venalidade um direito superior a todos os direitos, uma cláusula entre o bem e o mal teria que ser respeitada: para cada dez maldades praticadas, pelo menos uma bondade seria devolvida aos filhos de Deus.

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Ao julgar os malfeitos da Petrobrás, o juiz Sérgio Moro e o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot precisam levar em conta as soma de bondades e maldades que cabe a cada um dos membros da quadrilha da Petrobrás. Noves fora, as milhares de maldades já praticadas em nome da causa, é o caso do ex-ministro José Dirceu: devia ser condenado a praticar bondades para o resto vida, mas com a condição de não botar a mão no dinheiro das esmolas.