Pesquisa de opinião pública em Curitiba é dinheiro jogado fora. Dois exemplos: há pouco nos revelaram (?) que a segurança pública é o cancro da capital. Agora, o Ibope revela (?) que o prefeito Beto Richa seria reeleito com 72% dos votos. Se fossem ouvidos dois garçons da cidade, responderiam eles a mesma coisa: “Será um passeio!”.
No restaurante Madalosso, em Santa Felicidade, ou no Bar dos Passarinhos, no Bigorrilho, tanto faz. Basta perguntar ao garçom:
– Quem será próximo prefeito de Curitiba?
Ele vai responder:
– Beto Richa vai passear.
– Como você sabe?
– Pelas minhas pesquisas de mesa em mesa, de ouvido. Escuto uma conversa aqui, outra ali, e acerto com margem mínima de erro.
– Essa pesquisa de mesa em mesa tem metodologia? Nesse universo de frango com polenta é possível enquadrar todas as classes sociais da cidade?
– Perfeitamente. O cardápio de Santa Felicidade foi feito para agradar a todos: do vendedor das Casas Bahia ao diretor da Volvo. Pela bebida do cliente sei com quem estou falando: a classe A toma vinho argentino; a classe B bebe vinho da jarra; e a classe C é cervejeira.
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No momento, é só o que se escuta na cidade: Beto Richa pode passear! Como 81% dos curitibanos apostam na reeleição, o garçom Zé Luiz, do Bar dos Passarinhos, até sugere a Beto Richa passear na China.
Por que não? Pequim é uma capital que guarda algumas semelhanças com Curitiba. Lá eles têm a Ópera de Pequim, aqui temos a Ópera do Arame e, politicamente, 72% da população votariam no atual prefeito de Beijing. Os outros 28% não têm outra opção.
A causa de tamanha aprovação é que na China eleições livres não fazem parte do espetáculo e os dirigentes do partidão único são todos mágicos.
O presidente Hu Jintao, por exemplo, foi retirado da cartola. A democracia na República Popular é uma arte do ilusionismo chinês. A China não inventou a prestidigitação, foram os egípcios. Mas todos os dirigentes são discípulos do Mandrake, nos conta a repórter Thaís Oyama, enviada especial de Veja (no blog Diário da China): “Na festa da cerimônia de abertura das Olimpíadas, enquanto as 91 mil pessoas da platéia, dignitários estrangeiros incluídos, suavam tal e qual mulas no verão, o presidente Hu Jintao parecia estranhamente fresco. Pois o jornalista da BBC James Reynolds descobriu o motivo. Ao visitar a tribuna de honra antes do início da cerimônia, ele teve a curiosidade de dar uma espiada por debaixo da mesa em que ficariam o presidente e seus acompanhantes. O que viu lá? Aparelhos de ar-condicionado portáteis, um para cada autoridade chinesa, escondidos sob a toalha. Lula, que quase derreteu na cerimônia de tanto suar, vai morrer de raiva quando souber”.
A magia chinesa encantou o mundo na abertura das Olimpíadas de Pequim. Especialmente quando a menina de nove anos, Lin Miaoke, cantou Ode à pátria. Magia pura, admitiu o diretor musical do espetáculo: aquele pequeno rouxinol no Ninho de Pássaros não era o dono da voz. Yang Peiyi, 7 anos, a verdadeira dona da ótima voz, que é gordinha e tem os dentes fora do lugar, não era suficientemente bonita para representar a China: “Era uma questão de interesse nacional. A criança que apareceria diante das câmeras tinha que ser expressiva. Queríamos passar uma imagem perfeita e pensamos no que seria melhor para a nação”, explicou o diretor musical Chen Quigang.
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Depois de aconselhar Beto Richa a passear em Pequim, Zé Luiz do Bar dos Passarinhos se despediu balançando a cabeça: “Vai ser bom de voto assim lá na China!”.
Com 72% de aprovação, Beto Richa pode proclamar a “República Popular de Curitiba” e arrumar as malas para passear nas Muralhas da China. Pelo menos até a próxima pesquisa.
Enquanto isso, fica aqui matutando na Bandnews o cético jornalista Gladimir Nascimento: “Esse índice nem Jesus Cristo tem em Curitiba”.