Bela e doce confusão

(Diário de Roma)

Um dos roteiristas do filme “La Dolce Vita”, de Federico Fellini, o escritor, jornalista e dramaturgo Ennio Flaiano fazia parte de um grupo de intelectuais que se reunia no Antico Caffè Grecco, na Via dei Condotti, o mais tradicional de Roma, ou no Caffè Rosati, na Piazza del Popolo. Por turnos, nos dois cafés apareciam Roberto Rosselini, Marcello Mastroiani, Anita Ekberg, Anouk Aimée, o garoto chamado Pier Paolo Pasolini, Alberto Moravia, De Chirico e, sempre o último a chegar, Federico Fellini. Foi neste circuito, entre o Caffè Greco e o Caffè Rosati, sempre terminando em confusão na Via Veneto, que surgiu o roteiro para um filme chamado “Bella Confusione” que, por sugestão de Ennio Flaiano, Fellini transformou em “La Dolce Vita”.

Crítico corrosivo, na década de 1960 Flaiano escreveu uma peça chamada “Um marciano em Roma”, a história de como os romanos primeiro acolheram com entusiasmo um alienígena a bordo de sua espetacular aeronave para, logo em seguida, tratá-lo com a maior indiferença. Como se fosse mais um turista americano jogando moedinhas na Fontana de Trevi. Mais ou menos como aconteceu com Francis Ford Copolla quando veio a Curitiba. No terceiro dia de andanças do cineasta, murmuravam nos cafés da Boca Maldita: “Hiii… lá vem o chato do Coppola outra vez!”

Por ter nascido no Abruzzo, no centro da Itália, Flaiano era um “Marciano em Roma”. O parceiro de Fellini escrevia sobre a cidade com amor e ódio: “Se vive nesta cidade bela demais, amando-a e maldizendo-a, propondo-se deixá-la a cada dia e assim se vai nela ficando”.

Se não tivesse morrido em Roma, Ennio Flaiano poderia ter vivido uma “dolce vita” em Curitiba. Ou arrumado uma “bella confusione”.