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De quatro em quatro anos, os esgotos de Curitiba não exalam odores que empestam os nossos narizes. Ofendem nossos ouvidos. A fedentina vem da boca dos políticos e candidatos. É tanto bafio, tanto fartum, é tanto bolor, é tanto xexéu que está instituído, portanto, o prêmio Barão da Merda para o candidato mais fedegoso desta temporada malcheirosa.

O Barão da Merda foi um dos personagens mais bizarros da nossa história. Também conhecido como Castelhano, era proprietário de uma empresa sanitária e limpa-fossas de Curitiba. Enriqueceu trabalhando e conduzindo pessoalmente seus negócios, na boléia de uma carroça que recolhia os produtos e subprodutos dos penicos. Se fosse hoje, seria o maior acionista da Sanepar. Quando pobre, ou quando microempresário das fossas, era chamado de Chico Bosta. No início do século passado, porém, ficou tão rico que os invejosos começaram a tratá-lo como Barão da Merda.

As condições de higiene naquela época eram precárias. Algumas casas do centro de Curitiba já tinham sanitários internos. Ao contrário da maioria, que contava apenas com as “casinhas” construídas no quintal, sobre fossas livres e abertas, cujos dejetos eram simplesmente despejados em valetas que cruzavam os terrenos e desaguavam em riachos próximos. De certa forma, não muito diferente do que acontece hoje, especialmente no nosso litoral. Com a evolução das construções, os despejos eram conduzidos através de encanamento dirigido a fossas cobertas, mas que entupia com freqüência. E a fedentina tomava conta da Praça Tiradentes.

Conta o historiador Valério Hoern Júnior que o Castelhano, em vista do bom negócio que vislumbrava, “criou uma empresa sanitária que por sistema mecânico de sucção provido de alavanca instalada numa carroça, a qual abrigava uma burrica atrás, aliás uma engenhoca puxada por dois pacientes burricos, atendia a qualquer chamado de necessidades, comparecendo imediatamente às residências para limpar as fossas sobrecarregadas”.

Homem de faro fino para os negócios, ele também atuava na troca e manutenção dos encanamentos que, industrializados de forma rudimentar, arrebentavam no seu trajeto. Ou seja, no meio da casa.

Com o monopólio da bosta, tubos e conexões, o proprietário enriqueceu: começou a se vestir com tecidos ingleses, dos melhores alfaiates. Contudo, não entregou as rédeas da empresa. Para os trabalhos mais fedorentos, contratou alguns ajudantes também chamados de “bosteiros”.

Para a burguesia da época que se encharcava de perfumes franceses e andava pelas ruas de “nariz empinado” (especialmente em função do cheirume) aquele foi um pobre coitado que, literalmente, saiu da merda: primeiro Castelhano de nome, depois Chico Bosta e, para os que morriam de inveja, Barão da Merda. Os historiadores não confirmam, porém temos todos os indícios de que nasceu em Curitiba o dito popular: “A inveja é uma merda!”.

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Em homenagem ao primeiro curitibano com bom nariz para os negócios, este vulto histórico dedicado ao bem estar público, fica instituído o prêmio Barão da Merda: justo reconhecimento ao mais nidoroso dos políticos e candidatos a prefeito de Curitiba.