Que as urnas estão precisando de uma faxina geral, isto sabíamos há muitas e muitas urnas. Só desconhecíamos o poder das bactérias. Otto Lara Resende dizia que política é a arte de enfiar a mão no excremento. De fato, mas o jornalista foi elegante na definição. Para usar a palavra apropriada, desde a Proclamação da República o ato de votar tem sido um exercício de botar a mão no cocô.

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Com tanto excremento sob o nariz dos Tribunais Eleitorais, cabe agora ao eleitor pegar um tina com água e sabão para fazer com as urnas o que se fazia no início do século em Curitiba, quando as casas de banho eram estabelecimentos de utilidade pública.

As casas de banho surgiram em 1908, com a cidade ainda sem água encanada e esgoto. As primeiras, de propriedade do senhor Luiz Merlin, se instalaram na Rua Marechal Floriano e outras duas na João Negrão e no Passeio Público. À vontade do freguês, forneciam banhos quentes, frios, de chuveiro ou de imersão, oferecendo sabão e toalhas.

O cliente entrava num caixão de madeira quadrado, ficando unicamente com a cabeça de fora, enquanto o corpo recebia vapores de água quente expelidos por diversos canos instalados no recipiente. A duração desses banhos era de 5 a 30 minutos. Após o banho aplicavam um jato d’água fria para evitar resfriamentos ou pneumonia.Na época ninguém se arriscava a tomar banho de mar, mas os banhos com sais finos tinham os seus aficionados. O aquecimento da água era feito através de caldeiras, com enormes fornos que consumiam grande quantidade de lenha bruta e os canos em forma de serpentinas conduziam a água para os banheiros.

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A casa de banho do senhor Merlin era a mais chique: possuía dez banheiros e um apartamento para casais, o que seria uma espécie de motel para famílias de bem. Um assombro para a época, as casas mantinham massagistas germânicas que conheciam muito bem o ofício. O maior movimento era aos sábados e domingos pela parte da manhã. Nas segundas-feiras o dia era das prostitutas e às quintas-feiras as casas eram reservadas para as boas famílias que, depois do banho, iam confessar os maus pensamentos na Catedral.

Diziam os antigos que após um banho turco o corpo ficava rejuvenescido e o organismo em melhores condições de funcionamento. As pessoas de mais idade recorriam a esse processo de vapores para eliminar o reumatismo, as dores lombares e artríticas.

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Os banhos de meio corpo serviam para o tratamento de rins, mas para lavar o corpo das impurezas de caráter, das misérias morais, do mau cheiro da ambição desmedida e das cracas da desonestidade, diziam ainda aqueles de antanho, só mesmo uma boa surra de sal grosso.

No caso das urnas, de relho e com a bunda de fora. Sem massagens no ego, sem os unguentos da misericórdia, com a água e sabão da opinião pública.