Baile das Bem Boladas

Para os foliões novatos, o nome pode não dizer nada. Até porque, para quem chegou agora, o Carnaval curitibano já morreu e esqueceram de avisar aos reincidentes. O cadáver ainda desfila uma vez ao ano pelas bandas do Centro Cívico. Mas para os de meia-idade, ainda com alguns neurônios preservados, o Baile das Bem Boladas desfila na memória.

O Baile das Bem Boladas foi gerado nas páginas desta Tribuna do Paraná, pela imaginação do mestre Barriga, falecido chefe gráfico da Editora. Nasceu na velha Sociedade Batel, o Batelzinho. Uma pândega de concurso de beleza, reunindo a fina flor das damas da noite. Em sua época áurea, nos anos sessentas e setentas, o baile já uniu, pelos laços do matrimônio, senhores de tradicionais cepas com senhoritas nem tanto. E destruiu casamentos sacramentados.

Tão tradicional quanto o baile era a divulgação na Triboladas, coluna de humor onde semanas antes desfilavam as fotos das candidatas. Talvez mais importante que o próprio desfile. Certas candidatas, depois de arrebatar uma primeira página na Tribuna, até desistiam do concurso. Como dois e dois são quatro, se a Tribuna publicou o cachê dobrou.

Mais hilárias que as legendas das fotografias eram as histórias que sobravam desta pré-temporada carnavalesca, com as garotas solicitando a publicação “daquela foto no sofá”. E o telefone na mesa do Dartagnan, eterno editor da Triboladas, não parava de tocar:

– Gostaria de saber quando vai sair o resultado do concurso das Bem Boladas.

– Segunda-feira de carnaval.

– Sabe, seo Darta, hoje eu passei na quitanda do bairro e, olhando a Tribuna, descobri que a minha filha é candidata a Bem Bolada.

– A senhora só descobriu hoje?

– Pois sim! E fiquei bem surpresa, pois pensei que ela trabalhasse no comércio.

– Pois é, minha senhora. De fato ela trabalha no comércio, mas no comércio mais antigo do mundo.

– Fazer o que, seo Darta? … ela já é “di” maior!

Outro telefonema surpreendeu o editor, com a candidata pedindo para não mais aparecer na Tribuna.

– Darta, meu anjo: vou casar antes do Carnaval. Pega todas minhas fotos e rasga. Se o meu querido vir mais uma foto minha publicada, ele desmancha o casamento.

Sim, o Darta manteve as fotos no arquivo. Poucos dias depois, quase em cima do Carnaval, a moça volta a ligar:

– Darta, meu anjo: não vou mais casar com aquele canalha! Você rasgou as minhas fotos?

– Não, continuam no arquivo!

– Ai, que sorte a minha! Darta, meu anjo, publica aquele retrato do sofá vermelho na Tribuna de amanhã? Publica porque voltei pra noite e estou na parada, meu bem!