Bacanas e piratas

(De Paris) Dilma Roussef não vai marcar presença no G8, o encontro de bacanas que vai acontecer em Deauville e Honfleur, na França, nos próximos 26 e 27 de maio. Para não deixar o Brasil fora dessa muvuca mundial, ela deveria mandar o ministro Antônio Palocci como representante dos emergentes. Com tantas propriedades, inclusive para fazer e influenciar amigos, Palocci poderia ensinar às maiores economias do mundo porque no Brasil dois mais dois são cinco e mais uns quebrados.

Vi com meus próprios olhos: essa reunião do G8 promete um show de imagens para o mundo inteiro. Além da Carla Bruni, que se aparecer de biquíni na costa oeste francesa pode fazer parar a rotação da terra, milhares de manifestantes já estão reunidos em Le Havre para protestar contra as políticas dos ricos que ficarão hospedados numa das cidades mais belas do litoral europeu: Honfleur, uma vila portuária na Baixa Normandia cujo porto tem forma de retângulo, delimitado por três ruas de casas muito antigas e fazendo o quarto lado com o rio Sena, que depois desemboca no mar. Com suas casas de pedra com vigamento de madeira, muitas pintadas de azul e branco, fazendo fundo para os barcos ancorados, o pequeno porto tem uma luz tão fantástica que atraiu os impressionistas, todos puxados pelo pintor Eugene Boudin, ali nascido e hoje nome de museu.

O compositor Erik Satie também nasceu em Honfleur, de onde partiram quase todos os aventureiros que vieram dar nas águas do Sul do Brasil. Entre eles o navegador Binot Palmier de Gonneville, que aportou na Ilha de São Francisco em janeiro de 1504 numa tentativa de repetir os feitos de Pedro Álvares Cabral. Outro aventureiro que partiu de Honfleur foi o pirata Bolorot, o corsário de estimação dos paranaenses que afundou sua nau na ilha da Cotinga e que até hoje assusta as crianças de Paranaguá.

Em busca do mapa do tesouro do pirata Bolorot, passamos três dias em Honfleur. Do corsário só encontramos sua bebida preferida, o estonteante destilado de maçã chamado “calvados”, e uma paisagem que poderíamos comparar com Antonina, caso o pirata Bolorot tivesse dominado a Baía de Paranaguá e feito da cidade uma colônia francesa, com suas casas estreitas de até sete andares (com gancho no alto da fachada para puxar os móveis que não passam na porta) e a paixão de seus moradores pelo mar e pelo cultivo de flores.

No G-8, esse fechado encontro de bacanas (já na semana fechada presenciamos a montagem do mega aparato de segurança que vai interditar toda a estrutura de turismo da região), o grande ausente em Honfleur será Dominique StraussKahn, o fauno do FMI que não pode ver um rabo de saia. Em seu lugar, deveriam convidar o nosso Pirata Bolorot. Entre os corsários do G8, ele faria tanto sucesso quanto o novo filme dos Piratas do Caribe por esse mundo afora.