Com Roberto Requião no Palácio do Planalto, de uma coisa os paranaenses têm certeza: o Brasil nunca vai se divertir tanto. Especialmente quanto ao cerimonial da presidência. Na posse, veremos Requião receber a faixa presidencial de calça jeans, camisa azul e tênis. Lula, em traje de gala ao lado, vai lembrar o Barão do Rio Branco.

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O rei Harald V e a rainha Sonja, da Noruega, por exemplo, jamais vão esquecer a visita que fizeram ao Paraná em outubro de 2003 para conhecer a fábrica de papel norueguesa Norske Skog, em Jaguariaíva. No programa, o casal real seria recebido com confetes e serpentinas. Matéria-prima a custo zero, obviamente. Nem papel, nem papelão. Foram recebidos a pedradas. Assim que a rainha fincou o salto alto no norte velho, uma poderosa chuva de granizo desabou sobre as cabeças coroadas, fazendo com que a comitiva atravessasse os 20 quilômetros entre o aeroporto de Arapoti e o piso da fábrica, em Jaguariaíva, sob uma estridente batucada de gelo no teto do veículo, que não era uma carruagem.

Quem também jamais deve ter esquecido da visita real foram as criancinhas de Jaguariaíva, portando bandeirinhas do Brasil e da Noruega. Sem dó nem piedade, não respeitaram a fantasia da gurizada. Insensíveis, os responsáveis pelo cerimonial trajaram suas majestades como se fossem gente como a gente. Isto é: a rainha com um modelito como quem vai a um casamento chique no Clube Curitibano, e o rei com terninho estilo Vanderlei Luxemburgo. Como se aprende no Farol do Saber (que falta faz Rafael Greca nesses momentos!), rei e rainha sempre descem de uma carruagem, com tudo em cima: coroas, faixas, condecorações, véus, grinaldas e uma valsa na trilha sonora. As professorinhas de Jaguariaíva passaram vergonha, restaram na maior saia-justa, pois como explicar um casal real assim despojado?

Se o desfile real fracassou no quesito fantasia e adereços, quem não decepcionou foi o governador Roberto Requião, perfeitamente paramentado: calça jeans, camisa azul e aquele tênis velho de guerra.

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Mais inesquecível foi o almoço oferecido aos reais visitantes, onde não foi servido bacalhau. Infelizmente. No dia anterior, sua majestade, o rei, tinha sido apresentado a um bolinho de bacalhau e teria ficado duplamente surpreso: nunca imaginou que o seu produto interno salgado fosse tão delicioso e que o quilo de um norueguês prensado custasse tão caro aqui abaixo da linha do Equador.

Falávamos do memorável almoço, ponto alto da recepção. Ou o mais baixo, conforme o ponto de vista. Ou também no papelão, para usar uma palavra mais afim. Segundo nos contou na época um privilegiado comensal, o prato principal detonaria rebeliões na penitenciária de Piraquara: picanha ao coco ralado, com mandiopã e abacaxi!

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Pode? Por que não? Tanto pode que foi exatamente esse o rango real, acompanhado de um grupo de alunos cantando e dançando. Sem muito entusiasmo, é verdade, pois não se conformavam com a visão do rei e rainha sem cetro e coroa, comendo picanha com coco ralado.

Quanto à sobremesa, consta que já vinha anexa à carne. Por sinal, não de toda ruim. Talvez pudesse vir um pouco menos torrada e acompanhada ainda de um Sonho de Valsa.
Melhor mesmo foi depois do cafezinho, quando o hoje candidato a presidente saudou os noruegueses em nome dos paranaenses, e em defesa da boa mesa do Paraná. Roberto Requião foi o de sempre, não nos decepcionou:

– A família real está demonstrando, aqui nesta mesa, a valentia e a temeridade do povo da Noruega. Majestades, nós paranaenses reconhecemos: quem conseguiu comer uma picanha dessas, consegue enfrentar também o mais poderoso dos inimigos.

Não fosse o protocolo, o orador teria sido ovacionado pela comitiva real. Já as crianças de Jaguariaíva ensaiaram ligeira vaia: majestades sem carruagem e governador a bordo de um par de tênis, sinceramente!