Avante, curitibanos!

Somos a Capital dos Ligeirinhos: ônibus ligeirinhos, pedestres ligeirinhos. Pesquisa realizada pelo British Council apontou Curitiba como a sexta cidade do mundo, entre 32 cidades pesquisadas, onde os pedestres andam mais rápido. Ficamos na frente dos americanos e até dos quenianos, maratonistas por natureza.

Essa auspiciosa notícia já tinha sido registrada aqui, há dois meses, mas um fato relevante nos obriga a voltar ao assunto. Na quarta-feira, o escritor Ivan Lessa também comemorou a façanha na sua coluna do site BBCBrasil. Disse o festejado autor do “Gip-Gip Nheco-Nheco” das páginas do Pasquim:

“Com imensa satisfação e orgulho, ouso dizer, descobri que na lista dos cidadãos do mundo que mais rápido caminham, para distribuir cartas ou ir pegar um picolé na esquina, os nossos queridos curitibanos estão num 6.º mais que honroso lugar, já que levam apenas 11,3 segundos para percorrer uma distância de 60 pés, ou seja, 18,28 honrados metros paranaenses. Ganhando, pois, dos alemães, norte-americanos, holandeses, vienenses, poloneses e, claro, os ingleses. Avante, curitibanos! Eia! Avante! Sus!”

Ivan Lessa se referiu aos “ligeirinhos” de Curitiba porque o assunto vem ocupando um espaço razoável nos jornais londrinos: “O Royal Mail, ou os Reais Correios, chegaram à conclusão, após uma série de estudos, que a rapaziada boa da entrega de cartas, cartões, embrulhos, o que for, anda meio sobre o devagar. Literalmente”.

Auto-exilado em Londres desde a ditadura, Ivan Lessa cita os dados que os correios da rainha citam: “A força de trabalho anda puxando seu carrinho (aliás com 4 rodas e bem feitinho de corpo) a uma velocidade inferior à desejada. Especificamente, as autoridades postais acreditam que o ritmo da marcha de um carteiro deva ser de 4 milhas, ou 6,43 km/h, e não as atuais 2 milhas, ou 3,2 km/h. Carteiros e carteiras, que as há, ficaram fulos da vida. Argumentam que o ritmo que imprimem ao seu trabalho é não só plausível mas também o desejável. Há rumores de greve no ar”.

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O que intriga nessa pesquisa de velocidade urbana é que, em pelo menos dois quesitos (rua nivelada e livre de obstáculos), o desempenho de Curitiba foi prejudicado: as nossas calçadas são dificultosas para qualquer pedestre velocista e, se não fossem os obstáculos e barreiras do mobiliário urbano, os pedestres de Curitiba estariam agora no calcanhar de Cingapura, a campeã.

Numa outra falha dos pesquisadores ingleses, a pesquisa deixou de divulgar os nomes dos 35 curitibanos observados em suas andanças pela cidade. Quem seriam eles? Conforme o perfil desses maratonistas urbanos, isso faria uma grande diferença. Fosse um deles o escritor Dalton Trevisan, ganharíamos alguns segundos. Quem já mediu a velocidade, descendo a Rua XV de Novembro, pode comprovar que o Vampiro de Curitiba tem uma marca melhor que o pedestre de Madri (10,89s), superior ao de Copenhague (10,82s), perdendo por um pescoço para o campeão mundial de Cingapura (10,55s).

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Pedestre ligeirinho, carteiro ligeirinho, ônibus ligeirinho, motorista ligeirinho. A Linha Direta tem história curiosa.

O ponto de embarque e desembarque do ônibus cinza, o popular Ligeirinho, é a estação-tubo, especialmente desenhada. Na pré-implantação, surgiu a dificuldade: como estacionar o ônibus no ponto exato do tubo, para a porta se abrir e formar a plataforma de embarque/desembarque em nível? Em meio ao debate dos técnicos, sugerindo sensores e equipamentos sofisticados, alguém sugeriu:

– Chamem o motorista!

Veio João Maria Jorge, o Janguito, da Auto Viação Nossa Senhora do Carmo e, ligeirinho, improvisou faixas em fita-crepe colorida no tubo e no vidro do ônibus, para demarcar a baliza.

Sucesso absoluto, funciona até hoje com faixas permanentes. Janguito é o Ligeirinho em carne e osso. O nosso campeão que os ingleses ainda não conhecem.