Assim falou e escreveu o Sábio de Ipanema

São muitas as atrações da 12ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Das paisagens às pingas, com destaque para a inigualável “lula recheada com camarões” e outros acepipes marinhos do litoral sul do Rio de Janeiro, sem deixar de mencionar as celebridades internacionais que circulam pelas ruas desta cidade que, durante o período colonial (1530-1815), foi o maior porto exportador de ouro do Brasil: Vladímir Sorókin, poderoso escritor russo e um dos grandes críticos de do governo Putin; Michael Pollan, ensaísta americano inimigo da cozinha industrial e que faz campanha para que as pessoas cozinhem a própria comida; Juan Villoro, irônico jornalista e dramaturgo para arrancar boas risadas do público; e Andrew Solomon, autor do premiado “Longe da árvore”. Grande estrela da Flip, Solomon chega a Paraty com seu marido, o filho de 5 anos do casal e a babá, que depois da festa literária vão ao Rio encontrar com a mãe do garoto e sua namorada. 

Para comer, beber, ler e relaxar, das tantas atrações de Paraty nada se compara ao livro que o Instituto Moreira Salles lançou na abertura de Flip: “Millôr 100 + 100: desenhos e frases”, primeiro fruto da exploração dos desenhos de Millôr Fernandes no acervo do artista sob a guarda do Instituto Moreira Sales. Em 2013, o IMS recebeu em sua reserva técnica do Rio de Janeiro o acervo de Millôr Fernandes (1923-2012). A coleção é composta por 7.858 itens, entre desenhos em nanquim, colagens, impressões a jato de tinta (desenhos feitos em computador), guache, aquarela, lápis de cor e crayon, além de documentos pessoais, recortes de jornais e revistas e manuscritos.

 Junto com as 100 frases garimpadas pelo jornalista Sérgio Augusto, no oceano de máximas, chistes e haicais produzidos por Millôr, coube ao desenhista Cássio Loredano – também consultor do acervo – encontrar, entre os quase oito mil desenhos que fazem parte do acervo, 100 pares para elas – imagens que não as ilustram simplesmente, mas que a seu lado provocam a fagulha da inteligência.

Doze frases do mestre

1) Morrer é uma coisa que se deve deixar sempre pra depois; 2) A invenção do Alka-Seltzer foi uma tempestade em copo d’água; 3) Se os animais falassem, não seria conosco que iam bater papo; 4) Nas noites de Brasília, cheias de mordomia, todos os gastos são pardos; 5) Um desses livros que quando você larga não consegue mais pegar; 6) Celebridade é um idiota qualquer que apareceu na televisão; 7) Todo governante se compõe de 3% de Lincoln e 97% de Pinochet; 8) Quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos; 9) Desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal; 10) O dinheiro não é tudo. Tudo é a falta de dinheiro; 11) Quando uma ideologia fica bem velhinha, vem morar no Brasil; 12) Coitado do Lula! É viciado em si mesmo!