Com o fim da Guerra do Contestado, um certo coronel Fabrício reuniu bandoleiros para assaltar um trem de passageiros. A narrativa é do escritor Arnoldo Monteiro Bach, no livro Trens, conforme relato de Alexandre Weinhart, nascido a 22 de outubro de 1914.

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Era o ano de 1929, o trem expresso ou trem de tabela fazia a ligação Curitiba-São Francisco do Sul e Porto União, com conexão em Mafra, passando em Jararaca por volta das 19h.

A cada dois dias o coronel Fabrício mandava comprar jornal. Assim, mantinha-se informado sobre a movimentação de pessoas importantes que viajavam nos trens, que, geralmente, traziam valores para efetuar pagamentos de funcionários e obras do governo. O coronel Fabrício ficou sabendo que no trem de passageiros daquele dia viajaria um tenente do Exército com o pagamento destinado a um batalhão ferroviário que estava construindo a estrada de Barracão (SC). O valor era estimado em 200 contos de réis (200.000$000). O astuto coronel, que arquitetou o assalto, começou a pôr em prática seu ousado plano.

À tarde, apareceu na estação seu imediato, o filho de Conceição Sete Facadas, um sujeito de pouca conversa, queixo longo, cabisbaixo e de olhar desconfiado.

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Em seguida, apareceu um telegrafista que havia se reunido ao bando. Ouvindo o “pode”, acenou ao companheiro, que esperou o agente da estação anunciar pelas três pancadas do sino que o trem já estava entre Santa Leocádia e Jararaca. Eles esperaram que o guarda-chaves se dirigisse à recepção levando a bandeira verde, o que significava que a situação era normal para a chegada e passagem do trem.

O filho de Conceição foi ao escritório e, baixinho, falou ao agente da estação:

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– É um assalto. É melhor você se render que vai terminar tudo bem. Agora entregue o aparelho do telégrafo ao meu amigo. Não tente nada porque senão você é um homem morto.

O assalto transcorreu conforme o planejado, sem que ninguém desconfiasse, até a chegada do trem. Enquanto isso, o coronel Fabrício e seus homens se aproximavam. Alguns dos pistoleiros já apareciam entre as pilhas de lenha aguardando orientação dele. Quando o trem chegou, o primeiro a ser rendido foi o maquinista Napoleão.

– Saia da locomotiva e fique quieto! Não faça nada, senão você vai pro inferno! gritou um dos homens do bando, ameaçando Napoleão, que tremia sem parar.

– Pare de tremer, gordo! Deixe de ser medroso! Já sei. Você vai pegar na mão daquele sujeito e ficar de mão dada com ele, seu maricas!

Napoleão, envergonhado e com medo, pegou na mão de um sujeito mal encarado que estava no local. Apesar de humilhado, o maquinista não ousou contrariar o bando, do qual ele já havia ouvido falar.

Os homens do coronel Fabrício invadiram os vagões e roubaram o que encontraram com os passageiros: dinheiro, jóias, relógios e outros pertences de valor. No vagão de primeira classe encontrava-se o tenente e sua valiosa mala, por precaução colocada embaixo do assento. Durante o saque, as malas que estavam no porta-malas do vagão foram atiradas pelas janelas, caindo nas mãos de outro grupo de capangas do coronel Fabrício, chefiados pelo tenente Enéas, tio de uma das esposas do coronel. Tudo foi muito rápido e, sem demora, um trem com poucos vagões se preparou para transportar a maior parte do bando até a estação de Canoinhas, hoje Marcílio Dias, lugar ideal para um saque, no entender do coronel. Era uma vila constituída de colonos teuto-brasileiros, onde predominava a família Olsen.

O que aconteceu na estação de Jararaca se repetiu nessa estação. Renderam o agente e demais funcionários da Rede e exigiram a entrega do aparelho de telégrafo ao telegrafista do bando. Com o controle absoluto da situação, os salteadores se dividiram em grupos e saíram pelo povoado, onde se realizava uma festa de aniversário, com dança. A presença dos malfeitores desencadeou pânico entre os presentes. Um rapaz, apavorado, tentou fugir, mas foi mortalmente atingido por um balaço.